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Percebo pouco sobre as complexidades da Justiça e suspeito que nem a Justiça tem já capacidade para compreender a Justiça, tal é a sucessão de casos confusos que têm tomado de assalto o espaço público.
Ainda bem que há investigações e buscas e buscas e investigações. É para isso que a Justiça existe: para investigar, primeiro, e julgar, depois. Mas, para além da notável demonstração de talento e criatividade para a atribuição de nomes para as operações, a Justiça parece-me também muito empenhada em anunciar que anda por aí a fazer Justiça, sem se aperceber que deste lado é cada vez mais difícil perceber como se investiga, quem julga e se quem investiga não está antes a julgar. São poucas as explicações públicas e elas são precisas. Para que haja mais serenidade, menos histeria e mais confiança. Até porque a Justiça é complexa e sujeita a normais e inadvertidos equívocos.
Não cabe ao jornais e aos cidadãos esclarecer o que faz a Justiça. É a Justiça que tem de elucidar a comunidade sobre o que anda a fazer. Vejamos, a Justiça nunca informou de forma clara e transparente quem são os arguidos na Operação Lex. Mas todos os nomes são conhecidos. Não informa oficialmente porque está tudo em segredo de justiça e não se pode revelar. E revela (presume-se) não oficialmente porque está tudo em segredo de justiça e não se pode informar. É proibido, mas pode-se fazer porque é interdito que se faça. Sem que ninguém saiba quem, nem como, nem porquê. Justiça forte e cega é bom. Justiça que parece atirar areia para os nossos olhos só nos enfraquece.
* JORNALISTA