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O Porto é uma cidade de instituições. Da paisagem urbana emergem os edifícios que marcam, simbólica e funcionalmente, os papéis e a importância das instituições que neles se sediam. São referências da sua geografia. Sabemos onde ficam, o que simbolizam e o que representam. A Torre JN é um deles. Concebida pelo arquiteto Márcio Freitas, ostentando um expressivo painel de azulejos sob desenhos de Charters de Almeida, está entre as mais importantes realizações da arquitetura moderna e das artes plásticas do Porto nas décadas de 1960 e 1970. E é sede do “Jornal de Notícias” desde 1970.
É difícil conceber as funções destas instituições noutros lugares, dentro ou fora da cidade. As instituições e os seus edifícios pertencem à vida, à memória e ao futuro das cidades. É também assim com o JN e o seu edifício. A “Torre” não se destaca apenas na silhueta da cidade e da Baixa, não é um volume estéril, sem história e destituído de memória. É um ponto fulcral da cidade, da região e do país, onde convergiam as inquietações dos cidadãos e de onde irradiaram a informação e o esclarecimento. É difícil, por isso, aceitar que se tenha renunciado ao JN no coração da cidade; que o centro do Porto tenha perdido o último jornal. Sem que a cidade tenha podido ajudar a evitar este destino. Como é público, o imóvel foi vendido há vários anos. Hoje, fecha pela última vez as suas portas atrás do último jornalista a sair depois do fecho da edição, para abri-las às obras que hão de transformá-lo em mais um grande hotel. No qual a Redação do JN não parece caber. É certo que não é a primeira mudança de instalações nos 135 anos de vida deste vosso diário. Mas é provavelmente a mais importante, porque abandona um lugar que foi erguido para ser o “Jornal de Notícias”. E nada poderá expressar a profunda tristeza que este momento gera em cada um de nós.
Mas o JN está vivo. E inicia amanhã um novo dia de notícias, em instalações “provisórias” a alguns quilómetros do coração da cidade que o viu nascer, numa clara perda de centralidade, depois de um processo de mudança atribulado que vai obrigar cada um de nós a um esforço acrescido, mas assumido. Porque, apesar da turbulência, há um foco que nunca se perde: o leitor. Todos os dias fizemos, fazemos e faremos com entusiasmo o jornal dos leitores. O vosso jornal.
A Redação do “Jornal de Notícias”