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Quando se ganha, não significa que está tudo bem, as curvas da vida ensinam-nos que há sempre algo a evoluir, melhorar e afinar. Os manuais reutilizados gratuitos são uma ideia que se aplaude e que chegou com atraso a Portugal, pois nos países nórdicos, e não só, era prática corrente há muito tempo. Acontece que, lá está, há muita coisa a afinar. Desde logo, no método da entrega dos livros, neste momento a ser efetuada em prazos que apelam à criatividade dos pais, atafulhados em exigências profissionais e obrigados a encaixar, num horário curtíssimo, uma deslocação à escola, onde é preciso uma boa dose de sorte e paciência, sobretudo, se formos atendidos por uma daquelas funcionárias com pelo na venta: “É favor preencher o papel, se não estiver bem reclame na secretaria”. Vivi, há dias, a experiência. É assustadora...
Adiante, enfrentar o “Cabo das Tormentas” por manuais gratuitos vale bem a pena, por isso não valorizem o desabafo. Preocupa-me mais a pesada mochila às costas, no sentido literal. Todos os anos se fala do problema, que me parece pré-histórico, mas, na verdade, continua a não haver uma solução. São mesmo necessários tantos livros? Na era digital, com as aplicações à distância de um clique, continuamos a assistir à epopeia dos alunos carregados com quilos de material. A imagem, passe a hipérbole, lembra-me Obélix a transportar os menires, mas esse valia-se de uma poção mágica. As nossas crianças, que se saiba, não caíram num caldeirão com poderes. E resisto a entrar a fundo pelos cinzentos programas letivos, aos meus olhos demasiadamente amarrados ao passado e que impedem as crianças de se soltarem. São demasiadas horas sentados em salas de aulas, muitas vezes a ouvir as cansadas músicas da Carochinha, o que não abona a favor da saúde física e mental.
Neste equilíbrio entre conhecimento e desenvolvimento humano/desportivo, continuam a ser os pais e familiares a deixar a pele em campo, desdobrando-se em 24 horas, que, por vezes, parecem 48, para garantir valências que deveriam ser proporcionadas pela sociedade civil aos homens e mulheres de amanhã. Tal como comecei, indiscutivelmente, há muito por afinar para aliviar uma mochila que, apesar dos avanços, continua a ser grande e pesada. E ninguém quer isso.