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Avesso ao relativismo moral. Mais quebrar do que torcer. A emoção assumida, a par da razão, em cada detalhe. A aceitação corajosa das lutas difíceis. A amizade incondicional. A afirmação rígida de princípios que muitos negariam, à conta da prudência conveniente. As declarações fortes, de rutura. A capacidade de reconhecer erros e arrepiar caminhos. O apego à cidade, a sua, o Porto. As causas públicas. O CDS. O Manuel Sampaio Pimentel foi isto tudo.
Marcou cada um dos lugares por onde passou, muitos, apesar do tempo curto. Diretor de campanha do general Carlos Azeredo, candidato da coligação PSD/CDS à Câmara Municipal do Porto em 1997, vice-presidente da CCDRN a partir de 2003, vereador eleito nas listas encabeçadas por Rui Rio em 2005 e 2009 e por Rui Moreira em 2013 e diretor distrital do Porto da Segurança Social. No CDS percorreu a escadaria toda, da base ao topo. Foi dirigente concelhio, distrital e nacional. Mais importante do que os cargos, teve uma voz que foi ouvida e traços de caráter que fizeram verdadeira diferença. Testemunhei-o amiúde.
Quando em causa esteve ser candidato em eleições legislativas, num distrito que todas as sondagens antecipavam com mau desfecho, aceitou. Fê-lo por serviço. Simplesmente, porque era necessário. E quando em causa estive eu, na expressão do custo de oportunidade das vicissitudes de um Congresso que me colocou do lado oposto ao vencedor da contenda - discutia-se a permanência na presidência do grupo parlamentar para que tinha sido eleito por vontade democrática dos deputados - recusou debandar, fazendo também sua uma causa que bem poderia ter tido por alheia, mais que não fosse por simples avaliação das probabilidades do desfecho, que ao tempo faziam outros mudar apressadamente de barricada.
Rui Rio referiu-se-lhe como alguém que sempre agiu "de forma leal e amiga". Recordou "um homem que era o contrário da hipocrisia e da falsidade, que nunca empenhava as suas convicções para conseguir qualquer ganho de circunstância" e que "enfrentou corajosamente dificuldades em nome dos valores em que acreditava". O testemunho, vindo de quem presidiu à Câmara Municipal do Porto, que o teve como vereador, numa coligação que funcionou sempre impecavelmente, tem redobrado significado. Evoca o autarca e o amigo. E através dele, não desvaloriza, muito menos renega, o papel do partido que teve como aliado na coligação. Também faz toda a diferença.
Até sempre, Manel.
DEPUTADO EUROPEU