Não precisamos de escavar muito fundo para encontrarmos o cardápio de crimes que florescem na subcave da economia: burlas, fraudes fiscais, delitos informáticos e financeiros, tráfico de droga e, até, financiamento de terrorismo.
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A sofisticação nos métodos tem-se aprimorado, com prejuízo cumulativo para estados e cidadãos. Acresce que o dinheiro lavado nestes circuitos marginais não paga impostos e, em grande parte dos casos, não é reintroduzido no sistema. Os números em Portugal são respeitáveis: só no ano passado, a máquina de secar dinheiro sujo, suportada, entre outros, por bancos e entidades financeiras, contabilistas, advogados, mediadores e promotores imobiliários, conseguiu, em estreita colaboração com o Ministério Público e a Polícia Judiciária, travar 253 milhões de euros suspeitos de lavagem. Se atendermos a que, no ano anterior, tinham sido apenas 15,7 milhões, facilmente se conclui que não só os criminosos aumentaram o nível de empenho, como o mesmo aconteceu entre quem os denuncia e investiga. Valha-nos o equilíbrio.
Todos sabemos que não é possível acabar com a corrupção. Porque a corrupção usa como matéria-prima as pessoas. E entre essas haverá sempre imensas a quem os joelhos tremem perante a fulgência do ouro alheio. Mas o que estes dados traduzem é que uma democracia é tão mais sã quão mais sãs e sólidas forem as instituições de vigilância e punição. E isso só se garante com independência e meios, humanos e materiais.
Reforçar o músculo do sistema financeiro e do Estado torna não apenas mais respirável o ar, como tem outra vantagem: o dinheiro cuja comprovada proveniência seja ilícita reverte para os cofres comuns. Ora, se pensarmos que estes 253 milhões de euros correspondem apenas ao desvio detetado, ficamos esclarecidos sobre o serviço público que esta máquina de secar dinheiro sujo pode continuar a prestar. É mantê-la ligada à ficha.
Diretor-adjunto