A competitividade sempre existiu no desporto. E até mesmo para os românticos é relativamente fácil entender a cabeça de um atleta, seja ele anónimo ou de elite, para quem tudo se resume a ganhar ou a perder.
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A pressão não é um bicho de sete cabeças, porque na maioria das vezes é o aditivo de que tantos necessitam para se superarem. Mas a pressão pode tornar-se num pesadelo quando é entendida como uma inevitabilidade, quando o espírito de vitória não se compadece com as naturais frustrações de alguém que não consegue triunfar sempre.
A industrialização do futebol fez com que, em cada campo de terra batida por esse Mundo fora, os miúdos brinquem à Liga dos Campeões e finjam ser o Messi ou o Ronaldo. Não há nada de errado em termos crianças a projetar um futuro idílico à boleia dos heróis do futebol. Foi assim no passado com Pelé, Maradona e outros. O trabalho que hoje publicamos no suplemento desportivo Ataque mostra-nos como a infância dos sonhos está a ser moldada cada vez mais cedo pelas grandes marcas e pelo mercado das redes sociais. Jogadores de oito anos que assinam contratos com multinacionais desportivas, alguns um pouco mais velhos que já têm empresário, numa lógica arriscada alicerçada no potencial.
Nas idades de formação, é muito mais natural perder do que ganhar, mas a competitividade instalou-se de uma forma tão feroz que quase se convencionou aceitar que os miúdos têm de ser máquinas de vencer. Porque é isso que os clubes e os pais esperam deles, é isso que os colegas esperam deles, é isso que eles, cercados por tanta expectativa, se veem forçados a ser. Só que os miúdos não são máquinas de vencer, são, como os adultos, seres humanos carregados de defeitos. E mesmo os atletas de elite são-no em grande medida devido à forma como souberam abraçar as suas frustrações, transformando-as em vitórias.
Os miúdos podem ser excecionais em qualquer desporto ou área em que se revelem distintivos, mas serão sempre mais felizes se os educadores lhes explicarem em devido tempo que para ganharem têm primeiro de saber perder. A cultura da aprendizagem alimenta-se da cultura do erro.
*Diretor-adjunto