O mesmo Marcelo que há 41 anos teve de pular telhados de Beja para fugir a incidentes que lhe boicotaram um comício do seu partido, é hoje o presidente festejado, acolhido e abraçado em todos os lugares do Alentejo por onde passou, nos últimos dias, levando palavras de estímulo e esperança.
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O país mudou muito e Marcelo também. A sobriedade por vezes desconcertante com que marcou a campanha que o conduziu à Presidência, dispensando o favor comprometido e comprometedor dos aparelhos partidários, dá-lhe um ímpar e incontestado capital de confiança e autoridade. À Esquerda e à Direita, estão enganados quantos o queiram amarrar à sua família política de origem. Porque Marcelo é maior, é um homem livre, de bem consigo próprio e com o país.
Marcelo está a saber reinventar-se a si próprio como personagem, que não é mais o professor, o comentador ou o analista, mas o presidente que quer ser de todos e ir a todas, inspirador moderno e próximo dos cidadãos, comprometido com a necessidade de dar um contributo positivo, aproximar correntes, cicatrizar feridas, promover convergências. Entre muros e crispações, Marcelo é a oportunidade da ponte, nem que seja a teleponte.
Tem sido essa a sua prioridade, como se o seu discurso de posse, há 45 dias, fosse o guião para todo um mandato que ainda agora começa, mas que ambiciona acrescentar à história dos presidentes em Portugal o marco de um antes e depois de Marcelo.
Um presidente não governa, não tem poder executivo. O exercício das suas funções é, não apenas, mas muito, o uso da palavra. E Marcelo sabe, como ninguém, temperar a palavra. Ora, leio por aí, mas discordo, que Marcelo anda a falar de mais, que aparece todos os dias, que não sai dos noticiários, e que, as mais das vezes, é ele próprio o sujeito e predicado da notícia. Coincidência ou não, inaugura esta noite, em Sintra, o NewsMuseum (Museu das Notícias), um notável projeto privado que dá aos visitantes uma visão contemporânea e tecnológica dos grandes momentos da história da comunicação em Portugal e no Mundo. Marcelo, o grande comunicador, é ele próprio um dos cromos retratados no museu. E, não por acaso, o fundador da novel instituição, Luís Paixão Martins, refere-se ao presidente como "comandante supremo das forças mediáticas".
Simbolicamente, para assinalar a liberdade de expressão como um dos valores maiores da democracia, o museu abre às primeiras horas de 25 de abril. E a Marcelo, na cerimónia, juntam-se os chefes do Governo e da Oposição, António Costa e Pedro Passos Coelho. Tê-los-á convocado?