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Estava eu de ouvido na cigarra e olho nos Jogos Olímpicos, cai-me nas mensagens um apelo. Pedem-me que assine uma petição, dirigida à Assembleia da República, para que seja criado o Dia Nacional da Autoestima, a fim de reunir ideias e iniciativas que façam de nós pessoas e povo mais felizes.
O ego nacional, coisa que os psicólogos definem como a avaliação que fazemos de nós mesmos, anda agora em terreno positivo, estado de espírito que não é alheio ao novo ar que se respira depois da eleição do novo presidente e, sobretudo, depois de uma série de vitórias desportivas, em especial aquele golo do miúdo Éder que fez de nós campeões europeus.
Numa altura em que acreditamos que o português Guterres pode alcançar o topo das Nações Unidas, é com esse peito que estamos no Rio, aonde enviámos 92 atletas, a maior delegação de sempre do país na que é considerada a mais importante competição do Mundo.
Após a vantagem dos nossos rapazes sobre os argentinos, e depois de termos visto a estátua do Redentor iluminar-se de verde e vermelho, a expectativa é de voltarmos a cantar o hino e, num arrepio, ficar com pele de galinha.
Isto, apesar de termos ficado a saber esta semana que "um estudo" do Goldman Sachs, o mesmo banco que aposta no nosso fracasso financeiro, também prevê que regressemos do Rio com as mãos vazias e rabo entre as pernas.
Eu também não li Píndaro, mas sei que no mundo antigo os atletas que subiam ao Olimpo eram coroados com um ramo de oliveira e, a prazo, uma estátua de mármore e um poema, para os eternizar. Por cá, não precisamos de tanto. Apenas de mais umas medalhas. E mesmo que não sejam ouro, que sejam de confiança - o mais valioso padrão que regula as economias, a relação entre os povos e a nossa autoestima, coisa que começa em cada um de nós.
Voltando à autoestima, um quinto dos atletas (18) da nossa delegação olímpica nasceu no estrangeiro. Sim, também 11 dos 23 jogadores da seleção nacional que se sagrou campeã em Paris têm dupla nacionalidade, a começar em Ederzito (Éder) António Macedo Lopes, natural de Bissau, o moço que nos fez chorar de orgulho.
Sim, é desses sangues e desses mundos que somos feitos, povo e língua derramados. Num tempo em que se reerguem muros à diferença, puxar pela nossa autoestima é termos orgulho em carregar connosco uma herança genética e um lastro emocional que nos acrescenta competências sociais ímpares. E dizê-lo ou cantá-lo, no estádio ou nas Nações Unidas.
* DIRETOR