O presidente da República assinala, na próxima segunda-feira, quatro anos de mandato, entrando numa espécie de tempo de pré-campanha eleitoral. Marcelo ainda não disse que se recandidata ao cargo, embora todos acreditem que será essa a sua decisão.
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Neste último ano, a Presidência da República não foi tão mediatizada do ponto de vista noticioso. No entanto, o PR continuou ativo. Dentro e fora do país, estendendo a sua ação a diversos campos, principalmente em frentes que envolvem o Governo. Um tópico que, neste tempo, mereceu atenção foi a sua recandidatura, que é, aliás, uma preocupação presente desde o início do mandato.
Estávamos a 23 de abril de 2016. Meio a brincar, meio a sério, como tantas vezes faz, numa estufa de morangos hidropónicos, em Beja, o presidente da República vai recolhendo os mais vermelhinhos e diz para os proprietários: "Ao fim dos meus cinco anos de mandato, tem de me arranjar um lugarzinho aqui". Cinco ou dez anos?, perguntam-lhe. "Para já cinco, para eu ainda ter as mãos lestas, que isto exige rapidez de mãos. Depois de dez eu temo que já esteja um bocado gasto... vamos a ver". Passava menos de um mês sobre a tomada de posse como 20.º Presidente da República.
Numa nova corrida a Belém, há uma questão que inquietará Marcelo Rebelo de Sousa: os votos. Na sua cabeça, estarão sempre os 70,35 por cento que Mário Soares reuniu em 1991, depois de ter sido eleito à segunda volta, em 1986, com 51,1 por cento (na primeira volta somou apenas 25,4 por cento). Marcelo registou 52 por cento em 2016.
Em 2021, os tempos serão de imprevisibilidade. Porque não se sabe quem estará disposto a entrar na corrida e a dividir votos à Direita e ao Centro. Porque também não se calcula que estabilidade o Governo conseguirá manter. E porque já se percebeu que os consensos na Assembleia da República não são fáceis de alcançar. Todos olham para o momento da negociação do Orçamento do Estado como uma espécie de Cabo das Tormentas que António Costa se vê obrigado a dobrar a cada ano, mas convém não esquecer que uma crise pode precipitar-se a partir de qualquer lado. Isso cria uma colossal incerteza em Belém, pois, em qualquer cenário de crise, o presidente da República será sempre chamado a intervir. E isso terá reflexos nas perceções construídas sobre Marcelo Rebelo de Sousa que, em tempos eleitorais, se traduzirão em votos. Tudo isto será devidamente ponderado, mas o atual PR sabe que andou a selar um contrato efetivo com os portuguese e agora não poderá abandoná-los de um momento para outro.
Prof. Associada com Agregação da U.Minho