Diz a sabedoria popular da região que quando um alentejano recua é para tomar balanço. Não sendo o nosso atual presidente da República oriundo do Alentejo, será que o título desta crónica deveria acabar com um ponto de interrogação?
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Marcelo quando recua é para tomar balanço? Eis a questão. Não pertenço ao grupo dos que nunca se enganam e raramente têm dúvidas. Mas neste caso, ainda que reconheça que tenho algumas dúvidas e me engano várias vezes, tirei o ponto de interrogação ao título da crónica porque acho mesmo que os últimos aparentes recuos do nosso residente são mesmo para ele tomar balanço. Para novas declarações e para criar novos factos políticos, que é uma coisa que lhe assenta como uma luva há muitos e muitos anos.
Bem pode Santana Lopes emergir do seu exílio figueirense a reclamar que também foi "dissolvido" por muito menos, bem podem o "velho" André e o "novo" Rui Rocha insistir em moções de censura e pedidos de demissão, que Marcelo não se deixa empurrar para caminhos que não sejam os que ele escolheu. Mesmo para aqueles que acham que ele não sabe para onde vai, ele sabe que não vai por aí. Por onde o tentam empurrar.
Mas afastada quase liminarmente a hipótese da aventada dissolução, escusam de estar descansados o Governo e António Costa. Ficou já marcada para daqui a pouco mais de um ano nova data para recolocar na agenda de Belém renovada ponderação sobre a possibilidade de utilização da famosa "bomba atómica ". Com a informalidade habitual, o nosso presidente tratou de explicar que se por um lado não cede a empurrões da Oposição, também mantém ativa e intacta a sua liberdade de empurrar o Governo borda fora quando lhe aprouver.
É por estas e por outras que eu penso que o prof. Marcelo tem no seu ADN presidencial qualquer coisa de profundamente alentejano. Quando o vemos a recuar, já sabemos que é só para tomar balanço. Como aliás também acontece com o seu mundialmente famoso cumprimento de mão. Quando puxa o braço atrás é só para tomar balanço. E o homem que o acolheu na Web Summit, Paddy Cosgrave, que o diga.
*Empresário