9 de março de 2016. Faz amanhã três anos, um homem descia sozinho a Calçada da Estrela em direção à Assembleia da República.
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Vai a caminho da sua tomada de posse como presidente da República, num gesto tão inédito quanto natural, tão carregado de simbologia quanto de prazer. Um homem vai da casa dos seus pais para o posto mais alto do Estado como antes ia para a escola. "É mais ou menos parecido", dirá aos jornalistas. O caminho é parecido. Foi o percurso que Marcelo começou a desenhar a partir desse dia até hoje que retratamos na obra "Marcelo - Presidente todos os dias", de minha autoria e de Leonete Botelho.
Ao longo destes três anos, fomos seguindo regularmente o presidente da República, falámos com jornalistas que o acompanham, com políticos de diferentes partidos e com pessoas que lhe são próximas. Acompanhamo-lo no terreno e lemos centenas de artigos noticiosos que relatam o seu trabalho ao longo do primeiro mandato. E lá fomos tirando vários retratos.
Logo na introdução escrevemos que este presidente da República quer ser tudo de forma intensa. Quer estar próximo das pessoas. Quer intervir na política interna. Quer assumir um papel relevante na frente diplomática. E lá vai cumprindo uma agenda oficial pública; outra oficial não pública, partilhada com os jornalistas; e uma outra privada. Todos os dias, Marcelo mostra-nos um modo muito particular de exercer o mais alto cargo da nação, tentando não romper as suas competências constitucionais. Há quem o considere excessivo: na informalidade dos gestos, na diversidade de eventos em que participa; no comentário da atualidade... Todavia, é um facto que transformou a Presidência da República e reajustou o relacionamento entre políticos e cidadãos. E, com isso, foi travando eventuais tentações populistas que estivessem à espreita de oportunidade. Marcelo é absoluto e isso tem enormes virtualidades. E colossais riscos.
Como escrevemos no livro, Marcelo é parecido consigo mesmo, mas já não está na televisão ao domingo à noite. Está nos ecrãs televisivos quase todos os dias. E nos alinhamentos das rádios. Nas páginas dos jornais. E nos sites noticiosos. Passou para o outro lado do vidro, ficou ao lado das pessoas, de cada uma individualmente, plasmado em milhões de selfies que vivem nos álbuns virtuais como um membro afastado da família que veio em visita e já parece da casa. O comentador saiu à rua nas vestes de presidente e nunca mais da rua saiu. Em março de 2016, mês a partir do qual Marcelo saltou para o outro lado do vidro, o das pessoas de carne e osso, estávamos ainda num momento inicial desse período pós-troika em que as eleições legislativas de 2015 e presidenciais de 2016, separadas entre si por escassos meses, inauguraram uma fase muito diferente dos anos anteriores em democracia. O novo Governo minoritário representava um elefante para digerir por um povo a quem mingara a política à sombra do medo da bancarrota. Assim como para uma Europa numa deriva liberal, austera e castigadora, que assentara a sua mão dirigente sobre territórios desfavorecidos a quem impôs regras que os seus mais fortes se dispensavam de cumprir. É preciso equilibrar a balança. Marcelo acha que o pode fazer como nenhum outro. E começou antes de começar. Em plena campanha eleitoral, deixou aos jornalistas o mote daquilo que seria o seu principal desígnio durante os primeiros meses de mandato: "Se for eleito, a minha função é desdramatizar". Desdramatizar as conjunturas política, social e económica.
Entrávamos numa nova era. Mais otimista. Selado o pacto emocional com os portugueses, Marcelo tem margem para não se recandidatar? Claro que não! Mas pela frente tem o enorme desafio de renovar o seu estilo de ser um presidente próximo.
Prof. Associada com Agregação da U.Minho