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O reitor da Universidade do Porto apelou há dias para a existência de uma cortina de silêncio tendo por objetivo "não criar mais problemas" ao país. Numa cerimónia evocativa dos 25 anos do programa Erasmus, Marques dos Santos, entendendo que "a psicologia é fundamental", preconizou o fim da divulgação sistemática de "coisas depressivas". Na sua perspetiva é uma boa fórmula de abertura de uma janela capaz de arejar o pesado ambiente português.
Tem razão o reitor da Universidade do Porto. Não, não se trata de ignorar ou colocar os constrangimentos para debaixo do tapete mas, de facto, o matraquear permanente dos problemas só cria mais angústia.
Impõe-se validar, dar eco a dinâmicas positivas no país. Aos cidadãos não adianta nada estarem em sistemático estado de choque em consequência das agruras por que passam as suas vidas. Viver em permanente angústia é péssimo.
As boas iniciativas, protagonizadas por gente de reconhecido mérito, merecem valorização. E, felizmente, não é necessário um su- peresforço para as detetar. É dispensável fazer um exercício ao género da procura de agulha num palheiro...
Várias são as áreas nas quais Portugal dispõe de marcas de excelência. José Mourinho ou Cristiano Ronaldo são exemplos do Portugal positivo. E outros há, em múltiplos campos.
A Ciência e Investigação, por exemplo, atingiram um patamar de que o país deve orgulhar-se.
A distinção ontem anunciada pelo júri do prémio Grünenthal a um grupo de investigadores da Faculdade de Medicina do Porto/Instituto de Biologia Molecular e Celular e do serviço de Anestesiologia do Hospital de Santo António/Faculdade de Engenharia do Porto (ver páginas de Sociedade desta edição) é apenas o mais recente caso da profusão de prémios atribuídos nos últimos tempos a cidadãos nacionais - muitos deles jovens.
De facto, a comunidade científica nacional dá cartas, associada a diversas universidades, de Lisboa a Coimbra, de Aveiro a Braga, mas também em centros de investigação, como o IPATIMUP, o Instituto Molecular, a Fundação Champalimaud, a Gulbenkian e, até, em vários centros no estrangeiro. Em amplas áreas, da Medicina à Engenharia, Portugal deu nos últimos anos um pulo enorme no setor da investigação e, embora se trate de uma comunidade algo fechada sobre si mesma, merece ser uma referência de orgulho para todos os portugueses.
Sejamos justos: os sucessivos prémios para investigadores portugueses podem e devem ajudar no combate ao "ambiente depressivo" nacional. E são, de resto, consequência de uma das poucas apostas corretas dos governos das últimas décadas.