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Todos os treinadores têm um modelo de jogo preferido. E os teimosos raramente abdicam dele, mesmo quando essa aposta ameaça os objetivos ainda ao alcance na época. Os riscos são maiores quando se assume um projeto a meio da temporada e as ideias defendidas implicam uma transformação radical na forma de jogar da equipa, feita em plena competição e não tendo à disposição jogadores com as características necessárias para a exponenciar.
Martín Anselmi (F. C. Porto) e Ruben Amorim (Manchester United) são dois treinadores que estão a pagar um preço alto pela fidelidade a um modelo (construção com três centrais) que para funcionar precisa de artistas à altura e de estar afinado como poucos. O novo treinador dos portistas até se estreou com uma vitória (Maccabi Telavive), sofrida, diga-se, mas entretanto vai em três empates seguidos, dois para o campeonato português e outro na Liga Europa. Já o Manchester United de Ruben Amorim, ao fim de 20 jogos sob o comando do português, continua a oscilar entre o oito e o oitenta, sobretudo na Premier League, restando-lhe para “salvar” a época sonhar com a conquista da Liga Europa e/ou da Taça Inglaterra.
Dada a sequência infernal de jogos, Anselmi e Amorim estão obrigados a trabalhar um esquema tático no curto intervalo entre compromissos, pelo que qualquer erro passa fatura.
Admiro as pessoas fiéis aos seus princípios e ideais, mesmo quando não coincidem com os meus, excetuando fascistas e racistas. Essa admiração é válida para os treinadores fiéis a um modelo, pois a repetição é meio caminho para atingir a perfeição. Contudo, há alturas em que é preciso dar um passo atrás, pesar prós e contras, para depois avançar. Amorim já fez essa reflexão e deu esta época como perdida, assumindo que o trabalho que está a fazer é sobretudo a pensar na próxima. Se calhar, Anselmi devia fazer o mesmo. Ainda que os adeptos portistas não fossem gostar nada...