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Bastaram dois maus resultados e o selecionador passou de surpresa bestial a indecorosa besta. Depois da vitória na Liga das Nações, foi elogiado pela flexibilidade tática e pela rapidez com que começou a falar português e a cantar o hino, como se pertencesse desde pequenino aos pauliteiros de Miranda. Mas depois da derrota com a Irlanda já era o careca espanhol que percebe tanto de futebol como nós de críquete. O futebol é bipolar e se não o fosse teria metade da popularidade e da graça - por isso, é de um enorme cinismo quando os seus agentes lamentam que existam tantos tarados à volta de um desporto que podia ser bem melhor fora de campo. É uma mentira bem-intencionada. Se não existisse tanta loucura, o futebol seria um desporto igual aos outros, não venderia o que vende, não criaria os empregos que cria, não movimentaria o que movimenta. O futebol é a principal indústria no nosso país, um milagre os jogadores e treinadores de topo que conseguimos formar, um milagre de organização e profissionalismo dos clubes e da Federação. Roberto Martinez, também por isso, não seria o meu selecionador, escolheria um português, por me parecer anacrónico que não o seja, mas será ele o selecionador a levar-nos ao título mundial. Nesse 19 de julho de 2026 da nossa glória, faremos a festa e alguém descobrirá que o homem é, afinal, descendente direto da Padeira de Aljubarrota ou, hipótese bastante verosímil, herdeiro do herói que matou o Conde de Andeiro, esse traidor a soldo de Castela. Vai uma aposta?

