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Nada tenho contra a existência de uma televisão do Estado, mas não me parece que haja uma única definição do que é o serviço público que inclua seis horas diárias de playback do pior do nacional cançonetismo, sob o pretexto da descentralização, mas com o objetivo real de mendigar dinheiro através de chamadas telefónicas e vender produtos de ervanária. As emissões, sempre em direto, são degradantes. E as pessoas das terras visitadas, invariavelmente apelidadas de "gentes" e "povo", são compelidas pelas circunstâncias paternalistas a mostrarem-se agradecidas pela sorte que foi os senhores importantes da TV terem-se lembrado delas. Dir-me-ão que não teriam, de outra forma, oportunidade de aparecer na televisão. Eu respondo que o problema é exatamente esse, o de não ser considerada sequer outra maneira de mostrar o país, mais digna, que não explore a fragilidade de quem está normalmente fora do centro das atenções e o reduza à condescendente fórmula gastronomia+artesanato locais, como se este país não pudesse ser mais do que essa caricatura desenhada em Lisboa. É inaceitável que não haja melhor uso para a minha contribuição para o audiovisual. E, já agora, alguém me pode explicar por que razão também é taxada com IVA?