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Ao contrário da larga maioria dos homens portugueses, eu não faço questão, quando estou numa conversa sobre futebol, de tecer grandes considerações. Primeiro, porque sei pouco sobre o assunto. E, depois, porque me sinto esmagado pelo iluminado saber dos analistas que dominam o discurso público sobre o jogo e que se convenceram que o futebol é física quântica. Por causa deles, o futebol deixou de ser defesa, ataque, fintas, remates ou carrinhos, para passar a ser fase ofensiva, amplitude de passe, desdobramentos, compensações, basculações, mecanizações e temporizações várias. Eles falam, sem que ninguém os interrompa, de colocação de blocos, de espaçamento entre linhas, de intensidade da defesa ativa e de monitorizações diversas de pressão. Antes, marcavam-se golos. Agora, concretizam-se lances cuja geometria foi desenhada com tal correção que, vencendo as resistências do sistema defensivo adversário, lograram fazer a bola atravessar a linha de baliza. Se um guarda-redes, antes, dava "um frango", agora comete um erro denominado de "cria da espécie Gallus gallus domesticus de aves galiformes e fasianídeas".
Não sei precisar o momento em que falar de futebol se tornou em ciência só ao alcance de predestinados, mas agradecia que alguém sossegasse estes Niels Bohr de trazer por casa. Não há Nobel para o pontapé na bola.