Por natureza o médico ama a vida. A vida que protege, que defende e que salva. E tal como a vida precisa de ter médico o médico também precisa de ter vida. A profissão é exigente e absorvente.
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A evolução da ciência, a dinâmica da tecnologia que interage cada vez mais com a medicina, a contínua obrigação profissional de atualização de conhecimentos, de novas respostas, a busca eterna de soluções através do estudo e do trabalho coletivo em rede, são algumas das dimensões que levam a uma dedicação e espírito de sacrifício que é próprio de quem optou por servir a vida e o ser humano.
Mas há mais! As difíceis condições de trabalho, os momentos de tensão, o talento e o sangue-frio, a resiliência, a necessidade de comunicar em situações trágicas, a sensibilidade e a inteligência emocional para enfrentar imprevistos que a profissão lhe reserva são igualmente lados do quotidiano onde se verifica que efetivamente a vida precisa do médico. Por tudo isto é imprescindível também que o médico tenha vida. A vida que lhe dá a mundividência, a vida que lhe presta os ensinamentos para ter respostas, a vida que o prepara de forma lata e abrangente para as mais plurais valências que o médico deve possuir. O professor Abel Salazar dizia sabiamente "o médico que só sabe medicina nem medicina sabe". Pois aqui está tudo!
E porque é assim, o médico é hoje o mais bem preparado para perceber e liderar as organizações que têm por missão servir a saúde. A diversidade das informações que a vida lhe proporciona e a sua vocação natural pela busca incessante dos diferentes saberes, aliados ao forte amor ao próximo e conhecimento profundo das competências dos recursos humanos existentes no setor, fazem do médico de hoje o gestor por excelência das diversas instituições da área da saúde. Um médico é também um cuidador de organizações. Cuidador nas mais variadas competências. Nas mais subtis exigências. Um médico é também um empreendedor. Um empreendedor de novos modelos de gestão sempre, mas sempre, com os olhos postos na ética, no doente e no serviço infinito à vida.
Os hospitais do Norte de Portugal são os que têm tido claramente melhor desempenho e melhores resultados e quem for mais atento perceberá que não é o Norte que é melhor que o Sul. A razão deste sucesso reside num outro fator bem evidente: é que estes hospitais têm sido tradicionalmente dirigidos por médicos.
Tenho a forte convicção que se entregarem aos médicos a gestão das instituições de saúde (ERS, hospitais, ACES e outros), que afinal são quem verdadeiramente as conhece e tem a sensibilidade necessária para saber o que tem de ser feito, poderemos finalmente ver minimizados muitos dos problemas do Sistema de Saúde dos portugueses.
*Médico