Os portugueses são muito ciosos do seu cantinho. Tratam- -no como a uma flor de estufa; abespinham as intromissões e preservam- -no até mais não. Um comportamento assim, fechado, resulta numa certa "patine", sempre apreciada do ponto de vista histórico-cultural. A vivência em circuito fechado fomenta defesas contra riscos do aventureirismo; mas atrofia os horizontes.
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As barreiras de ordem fronteiriça geram, pois, constrangimentos. Tolhem dinâmicas. Às tantas, salda-se mais por defeitos do que por virtudes. E no país tropeça-se a cada esquina num conservadorismo doentio, sustentado em paradigmas de gestão a tender para o caciquismo.
O que se passa no plano da tradição municipalista nacional é eloquente. Em defesa de um centímetro de terra, populações ululantes têm obtido sucesso no pressionar do Poder Político, mais ou menos próximo. Ao nível concelhio ou de freguesias, as mexidas no mapa autárquico têm sempre caminhado no mesmo sentido: o do alargamento - e nas últimas décadas vários concentrados de portugueses ganharam o duvidoso estatuto de cidades. O anseio legítimo por melhores condições de vida dos aglomerados populacionais tem polvilhado o país de novos e cada vez mais diminutos centros de Poder; nunca a unificação racional de espaços geográficos e concomitantes meios de gestão, sejam eles os correspondentes a escolas ou hospitais, transportes ou tribunais. É uma fatalidade?
Ao invés do que muitos pensam ganhar escala é fundamental para mais qualidade de vida das populações. Os centros de decisão local precisam, por isso, de ser recentrados - mas não pelo encastelamento de mordomias em novos órgãos, embora mesmo esses não passem de esboço quando se pretende matá-los à nascença. Por exemplo: bastou propor, há uns anos, um mapa de regionalização sem pés nem cabeça para o atropelar e meter na gaveta das recordações a Regionalização do país.
Não é recomendável ter medo de discutir a refundação do atual modelo autárquico - o qual não se deve reduzir à agregação de freguesias. E como abundam os exemplos de resiliência às recomendações constantes do memorando de entendimento entre Portugal e a troika!
O estudo de opinião hoje publicado pelo JN sobre a hipótese de fusão entre as cidades de Porto e Gaia é uma boa "provocação" de cidadania ao marasmo instalado. O resultado favorável à criação de uma megametrópole PortoGaia é um indicador que não merece um assobio para o lado.
Alguns considerarão um mero exercício. Pois. Mas não seriam despiciendas as vantagens de um grande polo metropolitano no Norte - mais peninsular, até, do que português. E no caso do Norte português estaria, por fim, encontrado o peso específico necessário para, sob um rosto não acomodado, o Poder Central não continuar a fazer o que lhe dá na real gana.
Abrir esta discussão é de todo salutar, por mais inconvenientes que interesses instalados nela vejam. Isto para já não dizer que valeria abrir o debate a uma cidade ainda maior e aglutinadora de outros concelhos do Porto.
