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Por entre a maré crispada de soundbites políticos e vestes partidárias rasgadas em horário nobre, há um Portugal pobre, de mão estendida, que continua aprisionado no marasmo e dependente das ajudas sociais do Estado. Quase meio milhão de portugueses vulneráveis beneficia pelo menos de uma ajuda pública para levar a vida. Uma parte considerável acumula mais do que um apoio. Algo a que já não assistíamos desde 2011, ano de má memória da troika.
As prestações sociais dividem-se entre o rendimento social de inserção (apesar de tudo, em queda), o complemento solidário para idosos (em franco crescimento) e a prestação social para a inclusão. O valor médio dos três subsídios varia entre 152 e 375 euros.
Dificilmente alguém sai da miséria por ser beneficiário destes incentivos, mas o Estado é o último reduto para evitar que caiam na indigência. A pobreza de hoje tem várias camadas e é complexa de ler, porque se transformou num fenómeno transversal, que atinge classes médias empregadas, mas que não conseguem fazer face a despesas básicas, como a habitação, bens essenciais e serviços.
Ainda assim, vamos assistindo, no discurso da globalidade dos partidos, a um quase completo alheamento em relação ao drama destes portugueses. A clique política continua imersa na sua agenda, no bate-boca televisivo, sequestrada demasiadas vezes pela ideologia serôdia e inebriada pelo perfume da passadeira escorregadia das redes sociais. Era bom que não esquecêssemos quem somos e em quem nos tornamos. O desencanto crescente dos portugueses com os decisores também se explica com este distanciamento planetário entre a bolha da corte e o país dos cortes.