Melhorar as competências dos adultos e a produtividade
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Os resultados do Inquérito às Competências dos Adultos de 2023 foram divulgados esta semana. Para os que trabalham em educação e ensino, aqueles resultados são uma espécie de “murro no estômago”, e a primeira pergunta que ocorre é a seguinte: como é possível, depois de tantos esforços de milhares de professores, de tanta conversa sobre a geração mais qualificada e da prioridade política à educação, que 40% dos portugueses adultos não tenham competências mínimas nos domínios da leitura, da matemática e da resolução de problemas simples?
Ontem, pela manhã, já quase não havia rasto da notícia nos jornais diários. Não deixou lastro. Porém, a pior forma de encarar esta notícia é mesmo desvalorizá-la, fingir que nada se passa e que nada há a fazer. Há.
Em primeiro lugar, refletir sobre as razões destes resultados. O atraso histórico com que, em Portugal, partimos para o acesso de todos à escolaridade básica e secundária será parte dessa explicação. Mas a história não explica tudo. O défice de competência dos mais jovens, e mesmo dos adultos mais qualificados, está relacionado com dificuldades na efetivação das aprendizagens hoje, tanto no Ensino Básico e Secundário como no Superior. Não chega permitir o acesso à educação, é necessário garantir que quem está na escola ou na universidade aprenda.
Em segundo lugar, não desistir. Os resultados do Inquérito dão-nos pistas para melhorar as competências dos adultos na resolução de problemas. A aprendizagem ao longo da vida, a participação em programas de formação e o prolongamento da escolaridade melhoram mesmo o desempenho dos adultos. Isto é, apesar dos tristes resultados do Inquérito, a resposta não pode ser desistir. Pelo contrário, temos de continuar o esforço de educação e formação de jovens e adultos. E este é talvez um dos problemas mais dramáticos dos nossos tempos. Apesar de sabermos que o “segredo” é não desistir, vezes de mais as políticas e os estímulos são hesitantes e marcados por recuos incompreensíveis.
Em terceiro lugar, olhar para a economia de outro modo. Os adultos desaprendem quando os empregos são desqualificados, reduzidos a rotinas pouco exigentes. Precisamos de qualificar para desenvolver, mas também de modernizar para ativar e tirar partido das qualificações.
Principal lição a retirar destes resultados: o que há a fazer, para melhorar as competências dos adultos e a produtividade do país, não é reduzir o IRC. É sim continuar o esforço e o investimento em educação e formação dos adultos. Só isso nos preparará para enfrentar os desafios das mudanças sociais, económicas e tecnológicas.

