A avaliar por uma entrevista recente, António Costa considera levar vantagem sobre Pedro Passos Coelho, por não se ter na condição de "melão do qual só se vai saber a qualidade depois de abrir".
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Considerações botânicas à parte, facto é que pelo preconceito, até no recurso à fruta António Costa consegue ser socialista. O melão é rico em potássio, cálcio, fósforo e ferro, vitaminas A e C, pectina e fibras solúveis. São-lhe atribuídas propriedades que ajudam ao desempenho do sistema imunológico, à proteção da visão, à formação dos ossos, ao controlo do colesterol, à eliminação de toxinas e ao aumento da resistência dos vasos sanguíneos. O melão é assim independentemente daquilo a que saiba. Mas para António Costa não interessa nada. O bom critério tem de ter a superficialidade da apreciação das papilas gustativas.
Para António Costa, quando em causa esteja a escolha de um primeiro-ministro, o que importa é cair no goto. Há que ser simpático e dizer sempre aquilo que se acha as pessoas querem ouvir, mesmo que errado, a pensar nos votos. Se o auditório for avesso à coligação, o país está pior. Mas se pela frente estiverem chineses residentes em Portugal, o país já está melhor e a comunidade foi nisso fundamental. Exatamente assim, sem se ver contradição nos temos, ou injustiça pela negação de elogio equivalente aos portugueses que todos os dias se sacrificaram para que o sucesso fosse alcançado.
António Costa vê sentido na luta pela vitória das primeiras impressões. Nega qualquer caminho das pedras, por ser difícil e impopular, mesmo que inevitável. Felizmente que o PSD e o CDS valorizaram tudo o resto. Aceitaram governar na bancarrota legada pelos socialistas em 2011, concluíram com sucesso o ciclo de ajustamento, libertaram Portugal da troika, asseguraram o financiamento nos mercados a taxas de juro notáveis, conseguiram crescimento depois da recessão, reduziram o desemprego, equilibraram a balança comercial, relançaram o valor estratégico da agricultura e afirmaram o sucesso do turismo.
Na entrevista dada, o secretário-geral do PS não esclareceu em que fruto se reveria. Acredita-se apesar de tudo, sem grande risco de falhar, que pensaria num exuberante medronho, porventura de tom rosado.
A planta que o gera, da família das ericáceas, é dada à ornamentação, logo amiga da aparência. E o fruto presta-se à produção de licores e aguardentes. Embriaga com facilidade e através do efeito ajuda à ilusão, que a realidade impede.
Fica a metáfora fácil, para ilustração de tudo aquilo que Portugal não pode arriscar outra vez.