A Luís Filipe Menezes, agora oficialmente candidato do PSD à Câmara Municipal do Porto (CMP), podem apontar-se todos os defeitos, menos um: a capacidade de pensar projetos e de os enquadrar numa estratégia. Pode gostar-se ou detestar-se da estratégia e dos projetos, mas não pode negar-se a evidência: Luís Filipe Menezes é um notável produtor de ideias.
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Acresce que costuma bater-se por elas com afinco. Foi o que aconteceu, até anteontem, com a ideia de fundir as cidades de Porto e de Gaia. Antes e durante o percurso feito no trilho das pedras, até chegar ao ponto que queria - ser candidato à CMP -, Menezes ergueu esta bandeira vastíssimas vezes.
"Por mim, seria amanhã de manhã. Não levantaria nenhum problema. Basta as duas assembleias municipais votarem a favor e no dia seguinte o Parlamento vota a favor", disse o ainda autarca de Gaia numa entrevista concedida, em setembro, ao JN. Perguntado pela exequibilidade de uma ideia que merece reservas a muito boa gente, Menezes atirava: "No caso de Porto e Gaia, é exequível, porque a maioria das elites é a favor. A maioria do povo votante é a favor. Ora, se o povo é a favor"...
Se o povo é a favor, faça-se. Não vai fazer-se. Num espetacular flic-flac à retaguarda, Menezes disse, anteontem, que a ideia "está congelada". Isso mesmo: o alfa e o ómega da estratégia do candidato ficam para mais tarde. Este tiro de canhão no próprio pé foi dado no mesmo dia em que a Comissão Política Nacional do PSD aprovou, por unanimidade (facto nada despiciendo), a candidatura de Menezes à CMP. O que legitimamente leva a perguntar: terá sido o abandono da ideia uma das contrapartidas exigidas a Menezes para que a aprovação do seu nome fosse feita sem espinhas?
O eleitor do Porto tem, a partir de agora, o legítimo direito a perguntar: o que virá a a seguir? Menezes também vai congelar a esplendorosa ideia de fazer do Porto uma espécie de Barcelona? Menezes também vai congelar a estimulante ideia de recuperar 50 mil habitantes para a cidade? Menezes também vai congelar a pomposa ideia de criar uma espécie de senado municipal que ajude o presidente da Câmara do Porto a pensar o município e a região? Sim, porque quem congela, de um dia para o outro, a sua ideia-mestra pode muito bem congelar as outras a seguir.
É estranho, no mínimo, que o calor das ideias de Menezes seja colocado no congelador assim de supetão. Alguma justificação haverá. Se é de substância, o candidato deve apresentá-la ao eleitorado - e não refugiar-se, como se refugiou, numa coisa chamada "federalismo de concelhos". Se é de mera contabilidade política, o candidato começa mal o trajeto.
"O guerreiro vence os combates não cometendo erros. Não cometer erros é o que dá a certeza da vitória", ensinou Sun Tzu na "Arte da guerra". Menezes cometeu, com este recuo, um grande erro.