<p>1. As bolsas de todo o Mundo sofreram ontem (mais) um gigante tombo. O principal índice português registou a maior queda de sempre: 9,86%, valor aproximado ao de muitas outras praças europeias. Em S. Paulo, o maior mercado financeiro de toda a América Latina, a negociação foi interrompida duas vezes, depois de o índice cair uns brutais 15%! O que é mais estranho no meio disto tudo? É que a reacção segue-se aos milhões de milhões injectados por vários governos nos mercados financeiros para acalmar a tormenta. </p>
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A verdade é que a tormenta segue o seu caminho, aparentemente imparável. O intervencionismo de políticos e reguladores não chega para lhe suster o passo, o que deve confundir bastante os que, à boleia do desastre, se apressaram a execrar o mercado e a reclamar isso mesmo: intervenção sem limites para domar o maldito.
Parece ficar agora provado que verter milhões sobre o problema não chega. Simplesmente porque reina nos mercados um grau de desconfiança tão elevado que ninguém está disposto a arriscar um milímetro. Isto é: ninguém está disposto a emprestar dinheiro sem ter quaisquer garantias de retorno. De modo que as injecções de capital são, neste caso, meras aspirinas aplicadas numa doença bem mais grave.
Os próximos dias serão importantes para avaliar a extensão dos danos. Se as bolsas continuarem a derrapar a esta velocidade, mais vale começarmos a reclamar ajuda divina. Mas serão importantes também para aquilatar do grau de coesão entre os países da União Europeia (UE) nesta matéria. Cada um dos 27 tenta, nesta altura, limpar a casa da "toxicidade" que a infestou. Ocorre que outra tarefa se impõe: a de encontrar mecanismos conjuntos de regulação do sistema financeiro europeu, para que, quando uma nova tormenta se abater sobre a UE, haja instrumentos eficazes para a combater.
O pior que poderá acontecer, no entanto, será que, escaldados pelos factos, os líderes europeus se deixem embalar pela canção do exagerado proteccionismo. Essa factura costuma pagar-se bastante cara.
2. O presidente da República foi coerente: escolheu, como nos anos anteriores, o 5 de Outubro para proferir um discurso duro, daqueles que trazem sumo em (quase) todas as entrelinhas. A pouco mais de um ano das eleições legislativas, Cavaco pediu aos agentes políticos (isto é: ao Governo) para não iludirem a realidade, porque a realidade é dura e há que encará-la de frente. O chefe de Estado colocou-se ao lado dos desempregados, dos idosos com parcas reformas, dos jovens sem trabalho, das famílias incapazes de pagar as dívidas. O país pode cair no regaço de Cavaco. Ele zela pela nossa vidinha.