É uma hipótese. Séria hipótese. A âncora da salvação nacional pode estar no offshore! Calma. A definição é por norma atribuída a paraísos fiscais, vistos em regra como alimentadores de estratégias para a fuga de capitais e/ou manigâncias, mas a safa não está nessa perspetiva mais ou menos bandoleira. O offshore da esperança reside nas bacias sedimentares do Alentejo e de Peniche, zona onde a Galp insiste na prospeção de poços de petróleo, como ainda há dias notou em entrevista ao "Sol" Ferreira de Oliveira, o presidente de tão importante quanto estratégica empresa nacional.
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A descoberta de petróleo, passível de nos trazer outro fôlego económico, bem pode aliviar os estrangulamentos da sociedade portuguesa. Jorrando petróleo, refinando-se petróleo, será mais fácil desatar o nó. Acreditar é desejável. Se assim não fosse, as previsões do Documento de Estratégia Orçamental apresentadas anteontem pelo Governo não apontariam, com certeza, para a queda do preço do petróleo Brent dos 108,6 dólares norte-americanos em 2013 para 104,2 este ano, 97,9 em 2015, 93,0 em 2016, 90,0 em 2017 e 88,1 em 2018. Sejamos, pois, otimistas.
A esperança é alavanca essencial para dar sentido à vida, retirado o posicionamento dos rezingões do costume, isto é, os oposicionistas de qualquer governo - o atual como os anteriores e os futuros.
Repare-se na semântica usada para o desenho inicial do Orçamento do Estado de 2015 - ano de eleições legislativas - e no qual será necessário apontar para um défice público de 2,5%. A contabilidade político-criativa do Governo anuncia uma reposição de 3% nos salários da Função Pública (perderam, no mínimo, 15% nos últimos três anos) e troca a Contribuição Extraordinária de Solidariedade dos pensionistas e reformados por algo menos oneroso mas perene: Contribuição de Sustentabilidade. Engenhoso, aparentemente mais justo, o esquema substitutivo passa por agravar a TSU de todos quantos ainda têm trabalho (um "bocadinho", de 0,2%) e do IVA da taxa máxima (um "bocadinho", de 0,25%).
Numa sociedade em chagas não deixa de ser interessante o modelo. Distribui-se uma espécie de mercurocromo à Função Pública e aos pensionistas na expectativa dos decisores de que o antissético sirva para estancar as feridas abertas nos últimos anos por políticas persecutórias de classes específicas. E como a teoria é a do "bocadinho", fica aberta a possibilidade da introdução próxima de novas taxas de TSU e IVA receber a aceitação resignada de quem contribuirá (ainda) mais para os cofres do Estado. Claro, sobra o debate sobre as contradições no interior do Governo quanto ao agravamento de impostos ou a sua descida, mas por agora isso também não interessa nada....
O essencial em tempos de eleitoralite aguda passa pelo jogo semântico dos vários protagonistas.
O remédio de combate definitivo ao ciclo vicioso instalado está mesmo no offshore! Se e quando for descoberto petróleo, ficará mais fácil a vida da parte PP do Governo travestida de polícia bom comandada por Paulo Portas - e prometedora de abaixamento de impostos.