Estamos safos! A exclamação-desabafo tem tudo para ser proferida por uma parte dos portugueses após o tonitruante projeto ontem apresentado por António José Seguro.... Sim, o secretário-geral foi zurzido uma e outra vez ao longo dos tempos por decalcar apenas frases bem intencionadas mas sem substrato para safar o país do ciclo recessivo por que passa. E afinal também para Seguro o mundo pula e avança.
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Como no sonho de uma criança, o XIX Congresso do Partido Socialista - esse, o da unidade pouco inclusiva, como verrinosamente o adjetivou o socratista José Lello - permitiu a ilusão do aproximar de um novo tempo.
António José Seguro teve o condão de assinar essa felicidade a caminho. Aliás, mete impressão como ideias tão sedimentadas estiveram tanto tempo guardadas numa espécie de baú e ninguém foi capaz de as ter ou pôr em prática.
Há, então, um Novo Rumo anunciado - só não se sabe para quando. A adesão antecipada a novas propostas começa em breve, através de uma convenção cópia dos Estados Gerais gizados por António Guterres e das Novas Fronteiras de José Sócrates. A formatação do modelo visa, no fundo, objetivos precisos: a conquista de uma maioria absoluta - em eleições antes de 2015, supõe-se, sonha-se, talvez as autárquicas de outubro ajudem...... - mas bem mais do que isso, pois o líder socialista está aberto a coligações.
Como se constrói essa aurora de esperança?
António José Seguro dispõe de uma agenda de cujas páginas faz a convicção da infalibilidade.
O receituário impressiona.
12,5 mil milhões de euros para injetar na economia saem de uma série de instrumentos financeiros atrelados ao Banco Europeu de Investimento, à redução do rácio de capital da Banca e à massa da troika disponível para a respetiva recapitalização. Ninguém se tinha lembrado de tal. Soma-se no cadinho da recuperação uma panóplia de decisões, desde um novo modelo de financiamento da Segurança Social a um tratamento fiscal favorável para reinvestimento na criação líquida de emprego, e eis-nos quase libertados dos tormentos.
O equilíbrio passa, de resto, pela mutualização de parte da dívida pública (acima dos 60%) com a competente gestão e transferência da responsabilidade para a Zona Euro. Simples.
Um desenho assim, bem mais perfeito do que o croquis a que Portugal deve obediência à troika e de cujos defeitos só recentemente Vítor Gaspar se lamuriou, embora continue discípulo, dispõe de uma vantagem-sossego para os credores: António José Seguro não rasgará compromissos herdados do seu sucessor no cargo partidário.
Verdadeiramente, as propostas do secretário-geral socialista são propensas à quadratura do círculo.
António José Seguro tem tudo, incluindo ideias, para que o poder lhe caia no colo pela via democrática. Só mais tarde estará em condições de explicar aos eleitores como os credores internacionais, liderados pela patroa Merkel, o terão obrigado a bater pala e alinhar pela formatura geral dos necessitados.