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Angela Merkel participou, com adolescentes dos 14 aos 17 anos, num debate sobre política de asilo. Fez muito bem, neste assunto a Alemanha está relativamente à-vontade, tratando-se do país europeu que mais refugiados e demandantes de asilo tem acolhido.
A coisa só podia passar-se bem. Azar dos Távoras, a coisa correu mal. Uma jovem palestina tomou a palavra e disse, num alemão fluído e correcto, o seu sonho. Queria ir para a Faculdade, queria estudar, queria viver na Alemanha.
Façamos pausa e contemos a história da rapariga. Reem tem 13 anos, é palestina, vive com a família em terras germânicas há quatro anos, vieram do Líbano. Fim da pausa.
Voltemos à chanceler Merkel. Ouçamos o que ela respondeu à jovem. Foi assim a modos que à bruta. Totalmente inesperado, assim como, sei lá, uma chanceler em loja de porcelanas. Merkel fitou a miúda, disse-lhe que até a compreendia mas que isto de fazer política não era fácil (fácil é ser refugiado) e que ia voltar para o Líbano. Os palestinos no Líbano são às toneladas, para não falar dos africanos, chamados à conversa sem se perceber bem porquê. Não podemos, não conseguimos, concluiu a chanceler.
Perante tanta delicadeza e sensibilidade no trato, nem se percebe por que motivo a jovem Reem desatou a chorar, assim fazendo com que o vídeo da cena se tivesse tornado viral nas redes sociais.
Merkel disse alguma coisa repelente ou sequer censurável? Não, foi bruta como as casas, mas isso é feitio, não é defeito.
Nas redes sociais, logo clamaram uns que a chanceler era um monumento à crueldade. Outros, berraram que a senhora tinha feito muito bem.
Abençoadas lágrimas, as da jovem palestina, renderam juros a valer. Porque depressa se "descobriu" que afinal a jovem preenche os requisitos para ficar na Alemanha e não ser recambiada para o Líbano. Vejam lá, maravilhosa coincidência, a jovem vai ficar na Alemanha! Ninguém duvide: a jovem Reem, não fora aquele debate e as suas lágrimas, podia começar a fazer as malas. Esse foi o efeito benigno do tal vídeo "viral". É bom ou é mau? É bom, qualquer que seja a razão: parabéns!
Pensei é que ninguém se lembrou de avisar Tsipras, o PM grego. Tivesse ele chorado baba e ranho, passava a grego querido e estava em melhor situação. Ou talvez não. Ou de certeza que não.
PROFESSOR UNIVERSITÁRIO