Um dos melhores jogadores da história do futebol arrisca-se a terminar a carreira na sombria e pouco majestosa liga da Arábia Saudita. A questão é pertinente: o que leva um craque como Messi a querer jogar longe dos melhores holofotes? A pergunta ganha contornos maiores quando está em causa alguém que tem um currículo desportivo muito rico e ainda os bolsos mais cheios à custa de um salário de 35 milhões de euros anuais no Paris Saint-Germain.
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O problema de Messi é um pouco aquilo que sofre Cristiano Ronaldo: uma incapacidade de aceitar o final da carreira e querer prolongá-la num campeonato menor, procurando rechear ainda mais a conta bancária - 500 milhões de euros por cada um dos dois anos de contrato com o Al Hilal - e ter o calor dos adeptos bem perto para nunca perder o estatuto de lenda planetária. Esta frieza é muito condicionada pelo impulso financeiro de quem rejeita o lado mais sentimental do futebol e até coloca de lado as origens, descartando a possibilidade imediata de encerrar a carreira no país onde cresceu e até no clube onde começou a dar os primeiros passos com a bola nos pés.
O futebol tornou-se numa indústria tão mecanizada e fria que muitos princípios fundamentais se estão a perder, como o amor à camisola, o sentimento de ligação ao clube, a afetividade e as emoções. A lei Bosman contribuiu para abrir o mercado e aumentar a competitividade ao globalizar as equipas, mas cortou várias raízes umbilicais que foram a grandeza de muitos colossos europeus e estiveram na origem de várias conquistas internacionais. Há, de facto, uma diferença entre Messi e Zidane, ambos campeões do Mundo, duas lendas recheadas de títulos: um acabou a carreira aos 34 anos, no auge e no Real Madrid, depois de disputar a final do Mundial 2006; o outro ainda não se sabe quando irá terminá-la. Mas uma coisa é certa: vai terminá-la imensamente rico.
*Editor