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A disponibilidade de Marques Mendes para se candidatar ao mais alto cargo da Nação era uma espécie de segredo de Polichinelo. As apostas há muito em curso, dentro e fora do PSD, não se centravam no putativo avanço do comentador, mas no timing do anúncio. Esperaria Mendes por eventuais sinais de Passos ou Barroso? Aguardaria por Portas? Avaliaria as chances do almirante Gouveia e Melo? Ou adiantar-se-ia a todos, correndo os riscos inerentes a um pulo em frente sem chão (ainda) firme? Adiantou-se a todos. Logo se verá se o arrojo compensa, mas, valha a verdade, a jogada de Mendes foi de mestre. O ex-presidente do PSD foi figura de proa na festa do Pontal e, poucos dias depois, disse ao país que, se o país quiser, ele também quer ser presidente da República. Uma de duas: ou a cena estava montada com Luís Montenegro, ou Marques Mendes cobrou cara a presença na tradicional rentrée do PSD. A segunda versão parece mais plausível, por um simples motivo: a Montenegro não interessa dar gás a Mendes, numa altura em que precisa que todos os holofotes estejam virados para si. Mais. A partir de agora, todas as críticas de Mendes sobre as iniciativas, ou a falta delas, do PSD passam a ter um valor facial mais alto e mais incómodo para o líder social-democrata. E, ao contrário, todos os aplausos à ação do PSD soarão a mão no pelo de Montenegro. Não é coisa de somenos, se tivermos em conta o crescente poder comunicacional de Marques Mendes (no último domingo, conseguiu bater Marcelo na luta pelas audiências). Se, como parece, Mendes se impôs à liderança do PSD, fê-lo dando uma lição de tática e estratégia. Montenegro poderá sempre dizer que a candidatura à Presidência da República resulta de uma decisão individual. Sendo verdade, não elimina o essencial: o mestre Mendes ultrapassou-o pela direita.