O projeto do Metro do Porto impôs-se como um verdadeiro sucesso ao nível da mobilidade na área Metropolitana do Porto, com um acentuado crescimento da sua utilização pelas populações. Podemos criticar a sua (complicada) bilhética, o seu preço de utilização (significativamente mais caro do que o seu congénere de Lisboa), a forma como foi inserido urbanisticamente em alguns locais, as piores condições oferecidas em algumas estações (em termos de proteção dos elementos e de inexistência de casas de banho e/ou de acessos para pessoas com mobilidade reduzida) ou algumas opções estruturais que tornaram os percursos mais lentos do que o dos comboios que substituíram (como acontece na linha da Póvoa).
Mas a verdade é que o Metro do Porto é uma infraestrutura de transporte público de passageiros de que nos podemos orgulhar!
Este facto não invalida o "pecado original" cometido ao nível do seu financiamento e que é a razão principal para a gravíssima situação financeira da empresa Metro do Porto. De facto, os diversos governos (PS e PSD/CDS), em vez de assegurarem a construção do metro com dinheiros provenientes do Orçamento do Estado, decidiram que a empresa devia recorrer a financiamentos bancários, o que origina que, atualmente, o serviço da dívida atinja valores elevadíssimos. Situação a que acresce o pagamento de indemnizações compensatórias inferiores ao legalmente estabelecido.
Inicialmente, a empresa Metro do Porto tinha uma maioria autárquica (através da Junta Metropolitana do Porto). Em 2007, depois de diversas trapalhadas, a Junta Metropolitana do Porto, sob a liderança de Rui Rio, capitulou perante o Governo central e entregou-lhe essa maioria. Como contrapartida, o compromisso de que a segunda fase do projeto do Metro, designadamente ao nível das linhas da Trofa e para Gondomar, do prolongamento da linha azul em V. N. de Gaia e da linha a servir a zona ocidental do Porto e Matosinhos Sul seria lançado até janeiro de 2008. Como infelizmente tem sido uma prática (e, no caso, era o PS que estava no Governo...), mal se apanhou com a maioria na empresa o Governo central rasgou os compromissos que tinha assumido!
Hoje, a empresa Metro do Porto vegeta. Uma consulta ao seu site permite ver que dos seus Órgãos Sociais ainda fazem parte autarcas que já não o são desde outubro do ano passado! Os seus cerca de cem trabalhadores asseguram as operações correntes, sem perspetivas futuras, num desperdício de uma capacidade técnica e de uma experiência únicas que poderiam estar a ser aproveitadas quer na empresa (se esta fizesse os investimentos necessários) quer em tarefas de consultoria a outros projetos de metro ligeiro que se estão a desenvolver por todo o Mundo. Aproveitando capacidades, credibilizando as mesmas e gerando receitas para a empresa.
E, se há coisa dramática na competitividade de um país, é a perda de conhecimento e de experiência - do saber fazer. A destruição do nosso setor de construção ferroviária implica que, agora, compremos tecnologia estrangeira! Por isso importa não desperdiçar a competência que temos ao nível da conceção e implementação de projetos de metro ligeiros. Juntando-lhe as competências que temos ao nível da manutenção de material circulante (apesar do desinvestimento na EMEF - Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário), da conceção e construção de sistemas de gestão e de segurança de redes ferroviárias, de forma a criarmos um cluster que nos diferencie e afirme pela competência.
Mas não. Este Governo está preocupado com a privatização das empresas públicas de passageiros (o que inclui a Metro do Porto e a STCP), surgindo agora notícias de que esse modelo de privatização passará pela manutenção da dívida na esfera pública e pela entrega do "filet mignon" à esfera privada - o que significará, a médio prazo, aumento dos preços (como aconteceu com os correios) e extinção de carreiras menos "rentáveis" - ou seja, pior serviço público.
Governo que tem tanta sensibilidade para a importância dos transportes públicos de passageiros que se tinha "esquecido" de incluir no PETI - Plano Estratégico de Transportes e Infraestruturas quaisquer investimentos nesta área, tendo sido a UE a recordá-lo. O que significava que a expansão do Metro do Porto ficaria, mais uma vez, adiada.
Perante estas situações, estranho o silêncio dos autarcas da região! Será que querem ser cúmplices de mais este esbulho e desconsideração?!
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