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Qualquer líder que se preze usa uma regra básica: não procede a substituições nas suas equipas a pedido. Um primeiro-ministro, por maioria de razão, segue a cartilha à risca. Magotes de personagens da Oposição e da opinião publicada, seja por fortes motivos seja por pura embirração, têm consumido os últimos meses a reclamar modificações no Governo. Uma e outra vez, por tudo mas também por nada, os críticos traçam cenários de crucificação obrigatória de ministros. E até vão ao ponto de se contraditar quando agudizam as farpas, mas simultaneamente admitem as dificuldades de haver quem aceite ir para o meio de um caldeirão governamental que dizem estar a consumir as últimas hipóteses de combustão.
O charivari permanente simplifica a vida do primeiro-ministro. A cada nova investida estão a dar argumentos a Passos Coelho para não mexer na sua equipa de ministros. E o chefe do Governo tem razões para não se angustiar. Até a lamentável guerra interna no Partido Socialista o ajuda.
Obrigado a reajustamentos nas equipas de secretários de Estado (ajudantes de ministro, classificou--os assim Cavaco Silva, um dia...) - a razão ponderosa foi a renúncia de um elemento após ter sido acusado de um ato menos lícito pelo Ministério Público - Passos Coelho aproveitou as últimas horas para afinar outros retoques. Saem do Governo vários secretários de Estado e por razões fáceis de adivinhar: nuns casos, ficam livres para se candidatarem a autarquias e noutros injeta-se novo sangue ou uma maior identidade entre os titulares das pastas e os tais ajudantes. E nem um só ministro cai!
Ao primeiro-ministro, naturalmente, voltará a ser assacada falta de capacidade de reação e de redinamização da sua equipa de Governo.
O Executivo não é um poço de virtudes e, por isso, a chusma de críticas terá o seu quê de razoabilidade. Mas perde-se num ponto: este não é o "timing" adequado para uma remodelação mais vasta.
Um governo, seja ele qual for, não pode viver em permanente instabilidade. E ao anunciarem-se tempos difíceis, inclusive no plano partidário, Passos Coelho faz bem em juntar o útil ao agradável. Isto é: prova não estar disposto a sacrificar nenhum dos seus homens a pedido da "rua" e reserva para melhor ocasião o refrescamento da equipa de ministros. À distância de meros nove meses de umas autárquicas nas quais se adivinha a hecatombe eleitoral do PSD, Passos Coelho cometeria um erro se gastasse agora trunfos necessários para o Outono - como o da revitalização do Governo.
Por muito que custe a muita gente, tem lógica só mexer por agora nos ajudantes de ministros. E convém nem sequer ignorar que no plano técnico eles são essenciais na ajuda à credibilidade dos seus superiores hierárquicos.