O presidente da UEFA, Michel Platini, é um azarado: a Providência colocou-lhe o saber todo nos pés, esquecendo-se de deixar uma réstia de conhecimento e bom senso nos neurónios do francês. Se fosse escritor, Platini escreveria com os pés, porque só com eles consegue fugir da mediocridade. Como não é escritor, Platini deixa que o pé lhe fuja para o chinelo vezes de mais para quem, como ele, ocupa um cargo tão importante no mundo do futebol. Verdade: a culpa não é dele; é de quem o colocou à frente de um organismo tão importante como a UEFA. Mas, valha-nos Zeus, alguém tem de dizer ao francês que o silêncio é o melhor antídoto para combater a estupidez.
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Platini foi um dos melhores jogadores de futebol de sempre. Construiu uma carreira bonita. Que desbarata agora a cada dia que passa. Anteontem, na senda de outras palermices de valente quilate, o presidente da UEFA lamentou a saída da Holanda do Euro. Porquê? A Holanda fez três jogos miseráveis. Foi uma desilusão. Saiu - e bem - pela porta pequena, empurrada pelo engenho e arte da equipa portuguesa. Isto é: mereceu ir para casa mais cedo. Não é isso que deve acontecer aos menos capazes num torneio? Platini, uma espécie de elefante a caminhar numa loja de porcelanas, acha que não.
Platini foi um dos melhores jogadores de futebol de sempre. Construiu uma carreira bonita. Que teima em desbaratar a cada sentença que profere, a cada opinião que emite enquanto líder da UEFA. Anteontem, desbragado, disse sonhar com uma final entre Espanha e Alemanha. Claro: isso garante-lhe casas cheias e receitas. Azar dos ineptos: nesse mesmo dia, a Espanha não foi eliminada do Euro porque o árbitro do jogo não viu um escandaloso penálti que, muito provavelmente, determinaria a passagem da Croácia e o afastamento dos espanhóis.
Platini não percebe - seria talvez excessivo pedir-lhe que percebesse - que, a partir de agora, se a Espanha voltar a ser beneficiada ou se a Alemanha for bafejada pelo olhar transviado do árbitro, nós podemos legitimamente pensar que o desejo de Platini se está a cumprir por caminhos ínvios. Quem não alcança esta evidência não tem estaleca para liderar a UEFA.
De resto, o francês é useiro e vezeiro em meter a pata na poça (e sem se molhar, até agora). Este é o mesmo Platini que, em nome de uma "identidade" qualquer, acha que os futebolistas deviam jogar nos seus países. Ele, nado e criado em França, jogou, se bem se recordam, cinco anos na italiana Juventus, onde se fez craque, onde ganhou (e muito bem) o dinheiro que nunca lhe pagariam nos modestos clubes por onde passou no seu país. As vistas curtas não deixam Platini ver que Messi e Ronaldo não seriam o que hoje são caso tivessem ficado dentro das fronteiras do seu país.
O Mundo mudou. Michel Platini não. Azar o dele. E o nosso, que temos à frente de um organismo decisivo para o futebol mundial um tipo pacóvio e torpe.
