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O frio esconde-lhe as mãos sob o xaile grosso. A voz é um fio de apelos a quem passa na feira de Espinho. Alzira, 82 anos, seis vezes mãe, vem, “às vezes”, dos lados de Ovar, para ganhar trocos com o que o quintal lhe dá. A seus pés, dois cestos com ovos, verdura e limões. E uma galinha, com uma pata presa ao banco de madeira onde Alzira se senta. Pede moedas pela mercadoria, insistindo no “caseirinho” como benesse. Já teve banca. Agora, vai “para sair de casa”. Fico com ovos, verduras e limões. Entrego o dinheiro depois de esperar por repetidas contas de cabeça. “E a galinha?”, pergunta Alzira. “Para que quero a galinha?”, respondo. “São só dez euros e não andava com a pobre para trás e para frente”. Agradeço e digo que não. “Ninguém te quer! Pões-te murcha com o frio e pensam que estás doente”, ralha Alzira, pegando a seguir na galinha com voz mais mansa. “Deixa lá, miguinha. Fazes-me companhia.”