Milagre era se fosse sempre

Após o empate em Braga, agora a dez pontos da liderança, o melhor que se pode dizer é que não houve uma simulação de luta: a equipa tentou, mas não foi bem-sucedida. Sem conseguir entrar no jogo de equilíbrios que bem expôs frente ao Inter, a forma tépida e algo conformada com que abordou os arsenalistas, entregando a iniciativa ao adversário, adensou a ideia de que a crença na possibilidade de lutar pelo título se desvaneceu desde a derrota caseira com o Gil Vicente e a vitória do Benfica em Vizela, perante decisões incompreensíveis da arbitragem. Nesse momento, o destino que se foi traçando arrastou o futuro para o encontro da história de Conceição no F. C. Porto. Fica sempre a ideia de que o que fez não se inscreve na época dos milagres, mas antes no trabalho para além das possibilidades. Milagre era se fosse sempre.

Com dois empates sem golos a atirar o F. C. Porto para fora da Liga dos Campeões e para longe da liderança do campeonato, resta a competência exibida frente aos italianos, merecedora de mais e melhor. Os momentos de azar dos últimos minutos não são a síntese da época. O somatório de expulsões em momentos e jogos decisivos são prova de imaturidade e inadaptação ao contexto. Algo que Sérgio Conceição identificou. Há várias divisões dentro da primeira e as importações requerem tempo na alfândega do Dragão. Ninguém atira a toalha ao chão, mas é imperioso reconhecer o caminho.

A subir
As boas exibições na eliminatória frente ao Inter de Milão permitem concluir que há algo que o F. C. Porto, nesta época, podia ter sido e não foi. Esse processo de construção é a melhor das notícias em futurologia.

A descer
Sem marcar golos em uma mão cheia de oportunidades plenas, fica difícil. Uma equipa que se quer campeão tem que convocar o instinto matador. Sem ele, por melhor que jogue (o que nem sempre é o caso), fica sempre curta, indecisa e a duvidar de si.

(O autor escreve segundo a antiga ortografia)

*Adepto do F. C. Porto