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Não faltam santos ao Porto. Embora muitos sejam importados (e alguns comprados, em Roma), a verdade é que precisamos que façam milagres em favor da cidade.
Sobretudo a Senhora de Vandôma e S. Pantaleão, padroeiros jubilados, podem dar um empurrão. O mais relevante (mas é fundamental reunir os esforços de todos os santos disponíveis), seria o milagre de nos libertar do pesadelo da VCI. Menos complexo, mas ainda difícil, seria o apressarem as obras do metro, que transformaram a Baixa num estaleiro.
Deixando os grandes milagres, ficamos agora na expectativa de um, mais restrito, mas essencial ao deleite portuense. Refiro-me ao anúncio da reconversão da antiga linha ferroviária da Alfândega de lixo em luxo. De vergonha em regozijo. A sua reutilização, como via pedonal e ciclovia, além de um polo de excelência, constituirá um ajuste de contas com a História.
Assim contada: pelo decreto de 23/6/1880, o Governo decidiu a construção do ramal do Pinheiro à Alfândega, com 3896 metros e três túneis (o maior com 1320 metros). Projectado por Justino Teixeira, foi aprovado em 9.10.1880, iniciado em 17/7/1881 e inaugurado em 20/11/1888. Uma obra gigantesca, aberta no granito e na encosta das Fontainhas, que marcaria a paisagem. Funcionou até 1989 e, com o encerramento da Alfândega, deixou de ter justificação. Desde então, assistimos a prolongado desmazelo, inércia e desprezo por tão arrojada obra, convertida em terceiro-mundismo.
Por tais motivos, temos de elogiar a anunciada decisão heróica e tardia de requalificação, como via de lazer, da Linha da Alfândega. Esperemos o milagre!
*O autor escreve segundo a antiga ortografia