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As cidades têm de habituar-se a viver sem o automóvel. As palavras são de António Costa e pretendem demonstrar que há, agora, um renovado interesse do Estado em investir nos transportes públicos das áreas metropolitanas. Desde logo, na expansão das redes de metro de Lisboa e Porto, que o ministro do Ambiente até já aponta para 2018. Acontece que há duas formas divergentes de olhar para estes discursos, consoante se esteja em Lisboa ou no Porto.
Um cidadão residente na Área Metropolitana de Lisboa terá todas as razões para dar o benefício da dúvida ao atual primeiro-ministro. Em primeiro lugar, porque o disse enquanto inaugurava a linha de metro que agora liga o centro da capital ao subúrbio da Reboleira (Amadora) e que representa bem mais do que os 937 metros que custaram cerca de 60 milhões de euros, uma vez que é também um interface com a linha de Sintra. Em segundo lugar, porque foi também em Lisboa que se inaugurou pela última vez (julho de 2012) uma linha de metro, entre a Estação do Oriente e o Aeroporto da Portela, num investimento de 218 milhões. Somadas as duas parcelas, dá 278 milhões de euros. Em terceiro lugar, porque no Plano Estratégico de Transportes e Infraestruturas que o Governo anterior candidatou aos fundos comunitários estão previstos 160 milhões para modernizar a linha de comboios suburbanos de Cascais. Resumindo, entre obras recentes e investimentos com financiamento assegurado, chega-se à simpática soma de 438 milhões de euros. Para anos de crise, não está mal.
Para o cidadão residente na Área Metropolitana do Porto talvez já não seja tão fácil acreditar na boa nova anunciada por António Costa. Em primeiro lugar, porque é preciso recuar a outubro de 2011 para encontrar notícia de uma inauguração: a que acrescentou 753 metros à Linha Amarela, em Gaia, por 36,7 milhões. Em janeiro do mesmo ano, abrira a linha entre Porto e Fânzeres (Gondomar), que custou 161 milhões. No entanto, incluir esta obra numa comparação com a capital implica alguma boa vontade, uma vez que fazia parte do projeto inicial do Metro do Porto e foi deixada na gaveta a ver se caía no esquecimento. Foi, digamos, arrancada a saca-rolhas. Ainda assim, somadas as duas parcelas, dá 197, 7 milhões de euros (menos 80 do que em Lisboa). Em segundo lugar, e quanto ao que aí vem, o mesmo Plano Estratégico não podia ser mais claro sobre a importância de investir na região do Porto: zero projetos, zero euros.
Olha-se portanto para as palavras de António Costa e a única coisa que se imagina é que não tardarão a ser levadas pelo vento, empurradas pela nortada. Provavelmente em direção ao Sul, como é costume acontecer aos milhões.
EDITOR EXECUTIVO