Tropeço todos os dias, aqui no Porto onde vivo, num grande conjunto de jovens microempreendedores das mais variadas áreas. Há-os seguramente por todo o país. Jovens animadores culturais com ideias e experiência feita em espaço público, jovens artesãos que promovem novas leituras de materiais e funções, jovens criadores de produtos tantas vezes misturas perfeitas de tecnologia e conhecimento empírico acumulado, jovens divulgadores que criam e gerem plataformas tecnológicas internacionalmente articuladas, jovens gestores de espaços urbanos ressuscitados por novas utilizações, jovens preparados, abertos, entusiastas do seu tempo, contemporâneos de si próprios.
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Tropeço todos os dias, aqui no Porto onde vivo, igualmente nas suas dificuldades. Serão as mesmas em todo país.
Precisam de apoio. De quem se interesse, de quem realmente perceba o que propõem, de quem consiga avaliar o seu potencial, de quem invista e de quem peça resultados. Não são PME, não estão certificados, não têm três anos de experiência, não são ainda exportadores, não querem ter de instruir uma candidatura que custa a perceber e custa dinheiro (que não têm), não podem competir com quem nada desafogadamente pelos canais labirínticos das grandes instituições.
Acho que querem um sítio onde ir, onde possam apresentar as ideias que já concretizaram e as maiores que se lhes seguem. Um sítio onde lhes façam perguntas objetivas que levem para casa à procura de resposta. Um sítio onde possam obter micro, tantas vezes mesmo micro, financiamentos que à sua escala se provarão certamente multiplicadores. Um sítio onde esse financiamento se consiga de forma simples - um empréstimo, por exemplo, com um período de carência suficientemente alargado para permitir o retorno em que se aposta. Um sítio único, próximo, simples, fácil e sério, muito sério porque o que há de mais desencorajador é perceber que tantas vezes o empréstimo, o cofinanciamento ou o subsídio são entregues aos de sempre, a quem supostamente nada tem já a provar. Só porque dá trabalho estudar, perceber de que se trata, despistar as dúvidas maiores, encontrar um modelo de avaliação específico, falar com pessoas, seguir projetos, conhecer resultados... no terreno, claro.
Aesta altura já testei a paciência de quem teve de esfregar os olhos para tentar perceber tão pequena realidade. Afinal a tranca sempre destronou o argueiro.
Mas estes jovens e estas microexperiências empresariais e profissionais de que falo não são detalhes.
Inscrevem-se em quatro dimensões estratégicas do modelo de desenvolvimento desta Região. E por que não do país.
1.ª - Apoiar os jovens, reserva de futuro do nosso território.
2.ª - Privilegiar o autoemprego.
3.ª - Estimular o aparecimento e o desenvolvimento de novos perfis produtivos que possam compensar a quebra sentida nos nossos setores produtivos ditos tradicionais - afinal de que falamos quando propalamos a opção pelas Indústrias Criativas, pelas Novas Tecnologias, pela Política de Cidades Sustentáveis, pelo Empreendedorismo?
4.ª - Procurar desenvolver políticas públicas que de facto correspondam ao suprir de falhas de mercado - por exemplo um modelo eficaz de financiamento e avaliação deste tipo de projetos.
Talvez não sejam precisos os milhões do novo Quadro Comunitário que se avizinha, talvez não sejam precisas instituições públicas de grande porte, talvez a Banca com uma pequena linha de crédito avalizada pelo Estado e suportada em alguns, apenas alguns dos especialistas de análise de projetos, pudesse de facto apoiar centenas de jovens, dezenas de projetos e, sobretudo, dar confiança, passar o testemunho.
É claro que tudo isto é apenas e só um fio da meada.