Há cerca de um mês, a ministra da Defesa anunciou que o Governo iria realizar um estudo sobre as razões que levam à saída de efetivos das Forças Armadas, bem como um "recenseamento sociodemográfico dos militares".
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Dizia Helena Carreiras que tal estudo terá como objetivo "uma tomada de decisão e ação política mais informadas e sustentadas". Nada contra, mas cheira a empurrar o problema. É a típica estratégia de ganhar tempo: fazer um estudo ou criar um grupo de trabalho na esperança de que, com o esboroar do tempo, fique esquecido nalguma gaveta.
Aliás, não são precisos grandes estudos para ver o problema de frente. E ele chama-se falta de dinheiro. Durante anos, os orçamentos atribuídos às Forças Armadas sofreram uma redução ou estabilizaram. Sem guerras na Europa, Portugal foi desinvestindo. Chegamos a uma situação em que os meios e as instalações militares estão num estado lastimável. Viaturas, aeronaves, navios, armamento e munições, a maioria a precisar de renovação. O "NRP Mondego" é apenas um pequeno exemplo. Para poupar munições, combustível e peças sobresselentes, os militares são obrigados a menos treino operacional, prejudicando as suas missões. Já as instalações, alojamentos e espaços administrativos estão cada vez mais degradados.
A maioria dos militares tem remunerações mais baixas que a PSP ou GNR e no caso dos praças, segundo as associações profissionais, têm um salário mais baixo que qualquer caixa de um supermercado, que ganha acima do salário mínimo. Ou seja, carreiras estagnadas e um estatuto dos militares cada vez mais empobrecido. Não fossem as missões no estrangeiro, no âmbito da NATO e das Nações Unidas, que o Estado tem a obrigação de cumprir, tudo estaria pior. E mesmo assim, os militares vão para essas missões com a consciência de que alguns equipamentos não estão devidamente operacionais, mas o que ganham em termos salariais compensa o risco. Se um ministro não tem noção disto e precisa de um estudo, está tudo dito.
Editor-executivo