"É fundamental tirar carros da estrada, e as pessoas dos carros (...). Os transportes coletivos são o caminho, pelo que precisamos de mais comboios, e de mais pessoas a usá-los". Consegue adivinhar o autor desta frase e da respetiva estratégia?
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Pedro Nuno Santos (PNS), ex-ministro das Infraestruturas. O alegado líder da ala esquerda do PS e putativo sucessor de António Costa tinha, de facto, uma grande paixão pela ferrovia. Mas será que isso fazia sentido? Ou estaria PNS demasiado preso a visões ultrapassadas, ainda muito assentes na oposição clássica entre o automóvel poluente e o comboio eletrificado?
Quem tiver interesse, pode consultar a publicação online da Gulbenkian "Foresight Portugal 2030" (Volume 01 - Cenários de evolução para Portugal) e constatar por si que, num cenário mais arrojado de transformação (oposto ao imobilismo), o país tem a possibilidade de dar um salto em frente com o transporte rodoviário "verde" (elétrico ou a hidrogénio) e digitalizado, potenciado pela sua relação com as redes de comunicações 5G. A condução autónoma de camiões é vista como viável. Em 2030, há condições para vermos drones com propulsão elétrica a desempenhar múltiplas tarefas da logística urbana, reduzindo-se, desse modo, a necessidade de deslocação das famílias às grandes superfícies para se abastecerem.
E quais serão as vantagens de optar pela rodovia, sem poluição associada, em vez da ferrovia? O Plano Ferroviário Nacional, que deverá ser aprovado pelo Parlamento em 2023, prevê alta velocidade nas dez maiores cidades até 2050. Isso significa novos carris e outras infraestruturas. Com uma população crescentemente idosa, andar de comboio tem óbvias desvantagens comparativamente a transportes rodoviários verdes. Estes veículos são capazes de colocar os passageiros no destino exato, o que não acontece com os comboios. Por outro lado, não é preciso investir em estradas. Portugal até podia exportar tapetes de alcatrão.
*Editor-executivo-adjunto