Corpo do artigo
José Pedro Aguiar-Branco conseguiu elevar-se a um patamar de equidistância, que aliás se exige a um presidente da Assembleia da República, e colocar em perspetiva a polémica das celebrações do 25 de Novembro de 1975, comparativamente ao 25 de Abril de 1974 enquanto data da implantação da democracia. “Podemos debater a falta de investimento no serviço público de saúde, mas já ninguém põe em causa a existência do SNS, podemos traçar linhas vermelhas na redução de 1% do IRC, mas já não discutimos a economia de mercado e a liberdade de iniciativa. Podemos discutir, até, a cor dos boletins de vacinas, mas ninguém contesta a premissa da igualdade entre homens e mulheres, a igualdade de direitos perante a lei”, disse.
A segunda figura na hierarquia do Estado português poderia ter dado outros exemplos. O facto de muitos políticos demonstrarem um excessivo cuidado com as questões de género leva-os, por vezes, a iniciar intervenções com exageros que nenhuma mulher que eu conheça valoriza por aí além (“portugueses e portuguesas...”). Na realidade, tudo gira em torno de um grande benefício coletivo: se estamos a discutir questões que se prendem com a calibração da democracia, então é porque esta última existe e está bem consolidada.
O 25 de Novembro evitou uma viragem à Esquerda mais extrema e ajudou a erigir um Estado moderno e moderado do ponto de vista político, com uma economia progressivamente mais liberal, sobretudo após a adesão efetiva de Portugal à Comunidade Europeia, em 1986. Se o 25 de Novembro não tivesse acontecido, a nossa adoção dos padrões das democracias ocidentais teria sido muito mais lenta? Nunca saberemos.