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Instituições com séculos de história e um papel fundamental no apoio social em Portugal, as misericórdias enfrentam um quadro cada vez mais importante e desafiante. Responsáveis por uma vasta rede de serviços de apoio aos pobres, idosos e doentes, estas entidades de solidariedade social convivem com o aumento das necessidades da população e a estagnação - ou mesmo redução - dos apoios estatais. E não é só de dinheiro que estamos a falar, porque todos neste país sofrem com um monstro chamado burocracia e com o excesso de centralização de decisões. Presentes em praticamente todos os concelhos do país, gerem lares, centros de dia, unidades de cuidados continuados e prestam apoio domiciliário a milhares de portugueses. No entanto, o aumento dos custos operacionais, dos salários à energia, por exemplo, conjugado com apostas e promessas adiadas, coloca em risco a sustentabilidade de muitas destas respostas. A pandemia agravou o problema, ao provocar uma quebra nas receitas. Algumas não mais recuperaram. Abundam as misericórdias no limite da capacidade. Parece-me urgente rever os acordos de cooperação com o Estado. Os valores comparticipados estão desajustados face à realidade atual, comprometendo a continuidade de serviços essenciais para populações envelhecidas e em situações de carência, principalmente longe dos grandes centros urbanos, onde muitas vezes estas instituições são o único ponto de ajuda. Creio que ninguém tem dúvidas sobre o facto de as misericórdias desempenharem um papel insubstituível na coesão social. Mas sem apoio público o risco de colapso de algumas instituições é real - e os mais frágeis serão os primeiros a sentir as consequências. Misericórdia para todos eles.