O discurso político supostamente comprometido com a descentralização de competências do Estado entrou definitivamente na fase Miss Universo.
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O Governo sobe demasiadas vezes ao palco para fazer proclamações bem adornadas, mas depois ficamos com a sensação típica do espectador desiludido que olha para o televisor e desabafa: "Está bem, é muito bonito, mas ninguém acredita". As misses fingem que querem o fim da guerra no Mundo; o Governo finge que quer o fim do centralismo de Lisboa. Basta ver que os sinais dados pela menos prosaica realidade vão exatamente no sentido oposto ao desse universo cor de rosa em que o défice de representação das regiões fica atenuado com uma transposição de competências para os municípios que, em vez de os premiar com mais autonomia e maior poder decisório, os afoga em responsabilidades que não vão embrulhadas em cheques gordos. Andamos há décadas a discutir a descentralização/regionalização, a criação de governos intermédios, orçamentos independentes, eleições autónomas. Andamos há anos a ser enganados. Há múltiplas provas, mas basta lembrarmos estas, recentes, para percebermos que a coroa da glória acaba sempre na cabeça da mesma misse. Eurovisão 2018-Lisboa; Websummit 2018-2028- Lisboa; Jornadas Mundiais da Juventude 2022 - Lisboa. Agora imaginem quando descobrirem que Portugal tem mais 17 distritos. Ninguém nos segura. Preparem-se.
Jornalista