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Os últimos resultados dos principais bancos em Portugal revelam aumentos significativos dos lucros, quase 3,3 mil milhões de euros entre janeiro e setembro, uma subida exponencial de 70%. Esta performance deve-se, em grande parte, ao aumento das taxas de juro do Banco Central Europeu e a consequente transferência para o mercado, primeiro através da Euribor e depois para os custos de financiamento das empresas e particulares, especialmente através de empréstimos da casa. A verdade é que continua só a haver uma via: as taxas de juro subiram assustadoramente no crédito, o que não aconteceu com a remuneração dos depósitos. Ou seja, o resultado é que o diferencial de taxas de juro entre empréstimos e poupanças está nos valores mais altos de sempre.
Segundo estatísticas do Banco Central Europeu, o custo de um crédito à habitação em Portugal está nos níveis mais elevados em relação à média da União, mas na remuneração das poupanças estamos quase na cauda. A taxa média está em 1,81%, muito inferior à observada na área do euro, que é de 3,03%. Aliás, Portugal continua a figurar entre os quatro países que dão remunerações mais baixas nos depósitos a prazo.
Como é evidente, os bancos, quase funcionando em oligopólio, contam também com a passividade dos seus clientes. Os aforradores não têm para onde se virar se quiserem taxas mais atrativas e é como encontrar uma agulha num palheiro descobrir um banco que lhes possa oferecer maior rentabilidade. Esta falta de movimentação de depósitos também tem a ver com a concentração bancária no país: num período de 20 anos, passou-se de mais de 30 entidades bancárias dominantes para apenas meia dúzia. Ora, menos entidades significam menos concorrência e menos pressão para atrair depósitos. E como os bancos estão cheios de dinheiro disponibilizado, nos últimos anos, pelo BCE, não precisam de recorrer às poupanças dos seus clientes para se financiarem.
É nesta combinação explosiva que estamos: taxas elevadas para empréstimos, baixas remunerações para a poupança e concorrência limitada. Não é por acaso que muitos reivindiquem um imposto extraordinário sobre os lucros da banca, como aconteceu aos supermercados e às empresas energéticas.