Moda: um negócio com futuro, se o soubermos vestir
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A moda não é apenas uma expressão estética, é uma indústria poderosa, com impacto direto na economia, na criação de emprego e na projeção internacional de um país. Em Portugal, apesar do talento reconhecido e de uma base industrial consolidada, a moda continua muitas vezes a ser subvalorizada enquanto ativo estratégico.
Na próxima semana, o Portugal Fashion celebra 30 anos de existência. São três décadas de afirmação, resistência e internacionalização de criadores portugueses, num evento que se tornou a maior montra do talento nacional na área da moda. Promovido pela ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários – o Portugal Fashion é mais do que um evento cultural. É, desde a sua origem, uma plataforma de negócio, porque onde há jovens criadores, há também novos empreendedores, marcas emergentes, investimento e exportação.
O cluster da moda em Portugal – que integra os setores do têxtil, vestuário, calçado, marroquinaria e joalharia – inclui mais de 15 mil empresas, emprega diretamente cerca de 160 mil pessoas e é responsável por exportações que se estima terem ultrapassado os 7,3 mil milhões de euros em 2024. Representa cerca de 10% das exportações nacionais de bens, mas tem um impacto que vai muito além dos números diretos: a moda gera emprego indireto em áreas como a logística, o retalho, o design, a comunicação, o turismo e a formação. É, na prática, um ecossistema produtivo que junta tradição, inovação e sustentabilidade – e que se estende por todo o território nacional.
Países como França ou Itália souberam construir valor económico e reputacional a partir da moda, e Portugal também pode – e deve – seguir esse caminho. Mas isso exige ambição política, investimento estratégico e uma visão integrada para o setor, num momento em que a sustentabilidade, a digitalização e a rastreabilidade já são fatores críticos no mercado global – e Portugal está bem posicionado nestes domínios.
A edição deste ano do Portugal Fashion acolhe três designers da Arábia Saudita, num gesto que simboliza a capacidade de dialogar com outras geografias e de abrir caminho a novas oportunidades no Médio Oriente. A moda também é diplomacia, também é estratégia e também é futuro.
A moda portuguesa tem futuro, mas esse futuro exige escala, visão e ação. É tempo de levá-la a sério.