Modelo de acesso deve ser revisto já para o ano letivo 26/27
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Estão de parabéns todos os estudantes que ficaram colocados na 1.ª fase do concurso nacional de acesso. Este é sempre um dia marcante nas suas vidas e na das suas famílias. Parabéns a todos e votos de muito sucesso nesta nova etapa em que nós, instituições de ensino superior, tudo faremos para responder às vossas expectativas, garantindo a vossa melhor formação.
Ainda assim, o ano letivo 25-26 marca um retrocesso histórico naquele que vinha sendo o número de alunos a ingressarem no sistema de Ensino Superior, verificando-se uma diminuição de quase 10 mil candidatos, o que, face ao ano anterior, para além de sinalizar graves consequências para o futuro do País, exige uma resposta urgente. No imediato, um modelo que dificulta o acesso, e que promove, como se comprovou, uma diminuição de estudantes a concorrer, implica, necessariamente, menos estudantes a frequentar o ensino superior e consequentemente uma população menos qualificada. Cada jovem que fica de fora representa uma oportunidade perdida para o progresso científico, económico e social, especialmente no interior do país, onde a redução de candidatos se faz sentir com maior impacto, comprometendo cursos, colocando em causa a sustentabilidade das instituições e, por consequência, a fixação de jovens nas regiões menos povoadas.
Uma segunda consequência, e ao mesmo tempo uma contradição flagrante, prende-se com o aumento do número de vagas - mais vagas para menos candidatos - num período em que as alterações à forma de ingresso impõem naturalmente uma redução do número de candidatos. No ensino superior público houve um acréscimo de 691 vagas (+0,9% face ao ano anterior), sendo que no total, incluindo o privado, foram abertas 101 798 vagas, mais 1647 do que em 2024/25 (+1,6%). Em teoria, há mais oportunidades, mas na prática, menos estudantes a aceder a elas.
Assim, entendemos que o novo modelo, anunciado como mais transparente e rigoroso, cria uma injustiça clara e um verdadeiro obstáculo, especialmente para estudantes oriundos de contextos socioeconómicos mais desfavorecidos. O que devia promover igualdade acabou por favorecer quem tem mais meios para se adaptar.
A diminuição de candidatos é mais do que um número: é um alerta vermelho sobre a direção do ensino superior em Portugal. Este cenário exige intervenção urgente, incluindo revisão do modelo de acesso, incentivos para fixar estudantes no interior, programas de apoio socioeconómico e políticas que garantam igualdade de oportunidades. Sem ação imediata, Portugal arrisca perder não apenas estudantes, mas também talento, inovação e coesão social.

