No ano 2001, em uma das primeiras vezes que vim ao Brasil, a caminho de Fortaleza, numa estação de serviço, logo me encantei por um pequeno e apócrifo opúsculo que dava à estampa pelo pomposo e pretensioso título "Dicionário de cearense.
Corpo do artigo
Quando ontem cheguei a Florianópolis, terra de destino de muitos imigrantes portugueses oriundos dos Açores - e que lá se dizem "manezinhos", a minha anfitriã, alegando a proximidade da ilha de Santa Catarina com Portugal, mostrou-me um áudio com "língua" que os habitantes do antigo Desterro do reino lá falam: o manezês.
Então como agora a forma escrita pedia espaço à oralidade tentando um lugar ao sol no cardápio da língua. Mas nos últimos anos com o advento da literatura indígena e o aportuguesamento de muitas palavras, o número engrossa ainda mais. Se juntarmos aquelas que a tecnologia cunha diariamente, a língua não tem fim.
Em 2011, o Dicionário Houaiss, listava 400 mil palavras na língua portuguesa, mas, segundo Ieda Maria Alves, linguista brasileira conhecida pelas suas pesquisas sobre neologia, lexicologia, lexicografia e terminologia, o número de vocábulos que realmente existem é ainda maior e, levadas em consideração as palavras técnicas e científicas, devem existir cerca de 600 mil palavras na língua de Camões.
Essa língua sem fronteiras e sem tempo foi uma das âncoras da conversa que tive com a escritora e jornalista Isabel Lucas, recente curadora da presença de Portugal na Bienal do livro de São Paulo 2022 e que em breve será publicada aqui no JN.
Quando o nosso caminho é virgem e nunca foi trilhado, as chances de mofar com a pomba na balaia são maiores, mas na verdade também não temos mais nenhuma opção. Pois não?
Presidente da Associação Portugal Brasil 200 anos