1 Foi "o" momento da campanha eleitoral. Já se tinha percebido que Manuela Ferreira Leite não tinha fôlego para impedir a vitória de José Sócrates. Também era evidente que os socialistas não conseguiriam repetir a maioria absoluta.
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Faltava apenas saber até onde iria o Bloco de Esquerda na conquista de eleitores à franja esquerda do PS. As sondagens eram generosas para Francisco Louçã, com resultados sempre acima dos 10% e a garantia de liderar o terceiro maior partido. Era este o quadro na noite do frente-a-frente entre os dois líderes mais eficazes no discurso televisivo. O debate entre Sócrates e Louçã prometia ser "o" momento da campanha eleitoral. E foi. Com prejuízo para o bloquista. Porque Sócrates exibiu a parte do programa do BE que propunha o fim das deduções fiscais, ou seja, um aumento de impostos. Ficou claro que o BE não queria apenas aplicar impostos ao grande capital, ou acabar com os off-shores. A esquerda radical iria atrás do dinheiro de todos os portugueses. Um anátema que resultou. Louçã ficou aturdido, o que é raro, e o BE acabou com menos de 10% e ultrapassado pelo CDS-PP. Sócrates ficou com os louros e ganhou fôlego. Mas pelos vistos também ficou desmemoriado. E por estes dias anunciou a redução das deduções fiscais, ou seja, um aumento de impostos. Vai atrás do dinheiro de todos os portugueses. Com a agravante de deixar sossegados o grande capital (a tributação das mais-valias mobiliárias é para fazer, mas agora não dá jeito…) e os off-shores.
2. Quando ouvi dizer que o nosso ministro das Finanças recusava a distribuição de "money for the boys", pensei que Teixeira dos Santos se tinha transformado num populista de esquerda ou de direita. Pura ilusão. Afinal o alvo era a arraia-miúda das juntas de freguesia. Os governadores civis, os dirigentes das administrações regionais de saúde e das direcções regionais de educação, dos centros distritais de segurança social, os administradores, directores e assessores de empresas públicas como a CP, a REN, e um grande etc, ou seja, os "big boys", podem respirar de alívio. Continuará a haver "money" que chegue para distribuir.
3. Mas é preciso reduzir o défice. O Estado não pode continuar a gastar à tripa- forra. Sendo que é preciso definir um critério. Normalmente invoca-se o interesse nacional. E foi assim que ficámos a saber que, se é preciso cortar no TGV, abandona-se a linha para o Porto e a que daqui seguiria para Vigo. Fica apenas a que unirá Lisboa a Madrid. Tem outro salero, convenhamos. O novo Aeroporto Internacional de Lisboa, outra porta para nos ligar à Europa e ao Mundo, também está na vanguarda do interesse nacional. Ao aeroporto e ao TGV junta-se a nova ponte sobre o Tejo. De facto, ninguém pode acusar este Governo de agir sem critério. O interesse nacional existe e é sinónimo de Lisboa. O resto é paisagem.