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O socialista Dijsselbloem tem o direito de achar que os europeus do Sul gastam demasiado dinheiro em "copos e mulheres". A frase sem subjetividade interpretativa foi: "Na crise do euro os países do Norte mostraram solidariedade para com os países do Sul. Como social-democrata, a solidariedade é para mim extremamente importante. Mas quem a pede, tem também deveres. Não posso gastar o meu dinheiro todo em bebida e mulheres e depois disso ir pedir a vossa ajuda. Este princípio vale para o nível pessoal, local, nacional e também europeu".
Do mesmo modo, também temos o direito de considerar que os termos usados foram simplesmente estúpidos, independentemente do contexto. Não se argumente com a metáfora, porque generaliza e é ofensiva, inqualificável num presidente do Eurogrupo, que representa os países que deprecia e aos quais deve, a começar, respeito.
Seria fácil encarnar em Dijsselbloem o estereótipo de que num país onde se gasta dinheiro a comprar em "coffee shops" ervas esquisitas que se fumam, os disparates saem com maior facilidade. Ou atacar em caricatura a perspetiva pelo lado puramente comercial que, sejamos justos, nos Países Baixos tratam com reconhecido profissionalismo. É em Amesterdão que está o "Red Light District", a vender sexo nas montras com o aval do Estado. Em Portugal, o holandês encontraria quanto muito a reta de Pegões, numa certa tradição clandestina que, convenhamos, se intui menos lucrativa. E avaliados em "litros per capita", os compatriotas do presidente do Eurogrupo, que acarinhamos e gostamos de ver no nosso país, beberão mais e mais caro do que a generalidade dos portugueses, mais que não seja, por imposição do poder de compra.
A questão, no entanto, é que todos sabemos bem onde Dijsselbloem quis chegar. Tentou o lugar-comum de que nos países do Sul se viveu acima das possibilidades, gastando-se como se não houvesse amanhã, sempre na expectativa de que no momento do aperto os países do Centro e do Norte da Europa estariam lá para ajudar. Esta era a moral da sua história, em certa medida legítima, consideradas intervenções externas passadas. Acontece que para o dizer, o presidente do Eurogrupo não precisava de ser malcriado. Também não precisava de confundir os seus colegas socialistas portugueses, que em seis anos arruinaram as contas públicas e tornaram inevitáveis os ditames da troika, com os milhões de portugueses que se sacrificaram e sacrificam diariamente desde 2011, para lhes pagar as faturas. Esta é a moral da minha história.
DEPUTADO EUROPEU