A União Europeia balança aos olhos da opinião pública entre as vantagens de construção de um projecto que ao Velho Continente deu décadas de sinais de paz e prosperidade e uma deriva recente que conduziu à submissão de um grupo de bem intencionados Estados aos apetites dos mais apetrechados - e vorazes.
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Ontem como hoje, no entanto, têm os cidadãos um sentimento convergente sobre a União Europeia: é apetecível e transformou-se num sugadouro de dinheiro injectado direitinho nos bolsos de um naipe vasto de colarinhos brancos. Os chamados eurocratas não têm só a fama de ser poderosos e insensíveis; dispõem igualmente dos proveitos próprios de uma clique privilegiada.
À União Europeia não se pede miserabilismo nos seus próprios recursos humanos; exige-se-lhe, porém, a ponderação bastante para não se transformar numa zona (mais uma) de rejeição dos vários povos da Europa à ideia global de um projecto que contém virtudes, se for capaz de recriar dirigentes políticos que retomem o azimute de solidariedade e a atenuação de discrepâncias, conforme os conteúdos da génese da sua fundação. O que já esteve mais perto de suceder...
Há, naturalmente, várias perspectivas de análise para a forma como é gerido o orçamento da União Europeia. Mas longe, muito longe mesmo, de defender o nivelamento dos cidadãos por baixo, é, parece--me, pouco coerente fazer a defesa do actual estado de privilégios no funcionalismo da União Europeia - a começar pelo das reformas douradas e/ou antecipadas para cinquentões, sendo que a apologia feita por alguns para a não violação dos chamados direitos adquiridos é falaciosa por não corresponder a um padrão intocável de que cuide a própria União Europeia para a prática de cada um dos seus estados.
Num orçamento de 133,8 mil milhões de euros anuais podem considerar-se os oito mil milhões de euros consumidos em salários pelas instituições da União Europeia uma gota de água de um imenso oceano. Não deixa, ainda assim, é de ser de todo em todo pouco avisado considerar que a existência de um défice zero é razão bastante para não pôr fim a uma série de privilégios; como raia a insensatez fazer a defesa de benesses obscenas sob o prisma segundo o qual o governo europeu tem um peso que as justifica. É por estas e por outras que todos os dias cresce o grupo dos eurocépticos...
A crer nas posições assumidas ao JN por Maros Sefcovic, vice-presidente da Comissão e responsável pelas Relações Interinstitucionais e pela Administração, a União Europeia tem preparado um programa destinado a colocar fim às reformas antecipadas (indecorosas), emagrecendo simultaneamente o seu aparelho em 2800 funcionários no prazo de cinco anos, correspondendo a uma redução de custos da ordem dos 5%.
Vale mais tarde do que nunca - dir-se-á. Pois. Resta saber se ainda vai a União Europeia a tempo de emendar a mão nas suas políticas quando, indiscutivelmente, deveria ter sido a primeira entidade a dar o exemplo de frugalidade aos países a quem todos os dias exige contenção de gastos.