A crónica a propósito dos atentados da Noruega e (julgava eu) da questão da responsabilidade individual suscitou sms e e-mails imediatos do lado do vasto exército das ciências sociais.
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Não sou um perigoso inimigo das ciências sociais nem da sua obsessão em ver na sociedade causa para tudo mais um par de botas; e talvez se o "copy desk" do jornal não tivesse substituído, no texto publicado, "Verdade" por "verdade" dele resultasse mais óbvia a pontaria ao dogmatismo e à confiança acrítica no funcionamento do mecanismo das causas e efeitos no domínio social.
Porque os indivíduos não são meros títeres das circunstâncias sociais, dispõem (digo eu, que não sou sociólogo) de autonomia intelectual e moral. A preocupação com as "motivações profundas" dos comportamentos individuais é legítima até onde não passa a ténue fronteira entre a análise e a justificação moral.
Talvez haja "motivações profundas" na sociedade norueguesa que expliquem quer o "heavy metal" quer o massacre de Utoya, mas (perdoe-se-me o senso comum) nem todos os noruegueses se põem por aí aos tiros; como haverá nas sociedades islâmicas "motivações" sociais q.b. para levar um indivíduo a fazer-se explodir, mas a imensa maioria dos indivíduos dessas sociedades não anda com um cinturão de bombas à procura de um autocarro escolar ou de uma festa de aniversário. Talvez afinal, quem sabe?, haja alguma forma de vida além das ciências sociais.