Seria difícil imaginar um ano mais duro, incerto e sofrido de que 2020. Pela pandemia que nem uma ficção delirante poderia conceber.
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Pelos que morreram, pelos que estiveram doentes e pelos que, nos hospitais, tiveram que lidar com a pressão e com o desconhecido. Pelos negócios que fecharam, os empregos que se perderam e o retrocesso brutal para o bem-estar comum. O impacto económico e social desta crise é equiparável ao provocado por guerras ou revoluções e a recuperação será sempre mais lenta do que desejaríamos.
Mas este ano mostrou-nos também um mundo capaz de apostar nas respostas da ciência, no efeito da solidariedade e no alcance da cooperação internacional. Mesmo em países onde o discurso político foi irresponsável ou negacionista.
Num quadro tão dantesco e imprevisível, para o qual ninguém podia estar verdadeiramente preparado, a nossa resposta enquanto sociedade é, apesar de tudo, um motivo de ânimo. No lado económico da questão, porém, nem sempre o ânimo é suficiente para manter empresas a funcionar. Por muito que haja quem tenha conseguido adaptar-se, ser criativo e criar novas áreas de negócio, houve também quem não tivesse outro remédio - até por força das restrições legais vigentes -, que não fosse parar tudo e fechar portas. E, aqui, é preciso questionar as opções de um país (e de um governo) que tem previsto injetar tanto dinheiro na TAP quanto o que custariam nove meses de lay-off num cenário de confinamento total.
Mesmo com fundos extraordinários da União Europeia, o dinheiro nunca chega para tudo. Isso já sabemos. E muito menos chega para, ao mesmo tempo, concretizar investimento público, apoiar a economia real, criar emprego e tapar buracos em empresas falidas na esfera do Estado. Em matéria de prioridades públicas, convinha que à mudança de ano correspondesse uma forte mudança de hábitos.
Com esperança na eficácia da vacinação, na potência da bazuca e na resiliência dos empresários e dos trabalhadores, temos que concentrar energias para a missão que nos espera. O Mundo não vai voltar ao que era e já começou a mudar. Por uma questão de conforto, podemos querer chamar-lhe "novo normal". Mas o único dado seguro é que será diferente.
Empresário e Presidente da Associação Comercial do Porto